Lee (à direita) e seu oponente: mudando paradigmas.
É muito interessante as sensações que temos ao assistir ao documentário AlphaGo, afinal, ao acompanhar o empenho da equipe de programadores que constroem a inteligência artificial capaz de jogar o milenar Go nós torcemos para que sejam bem sucedidos. Por outro lado, lá pelas tantas, começamos a ficar tristes com a expressão do campeão mundial que vai da confiança mais certeira para a insegurança mais aterradora diante do fantasma da derrota nunca antes experimentada. Há um peso inegável sobre os ombros dele e isso pesa sobre nossa torcida também. Existem vários filmes sobre a relação da humanidade com suas criações, mas quando se trata de jogos a coisa sempre ganha uma conotação diferente. Lembro quando eu era adolescente em 1996 e o assunto era o duelo do campeão mundial de xadrez Garry Kasparov com um computador da IBM, o DeepBlue e Garry acabou perdendo uma partida. Este documentário até cita aquele embate histórico, mas tenta nos convencer de que ganhar uma partida de Go seria ainda mais complicado para uma máquina. Eu conheço Go desde que assisti a Pi (1998) (o primeiro longa de Darren Aronofsky) e confesso que foi difícil entender a lógica do jogo desde então. Considerado por muitos o jogo de tabuleiro mais complexo que existe, já que o tabuleiro possibilita um número tão elevado de posições que julgavam ser impossível um algoritmo convencional processa-las, sendo considerado que somente o raciocínio humano seria capaz de somar raciocínio lógico com criatividade e intuição para jogar. Desenvolvido pelo Google, AlphaGo rompeu paradigmas. O documentário de Greg Kohns começa com o desafio a um campeão europeu de Go, que fica surpreso com a derrota, mas, quando o jogo ganha atenção da mídia, existe um clamor para que AlphaGo enfrente o campeão mundial Lee Sedol. Chinês e jogador desde a infância, Lee considera que a máquina jamais será capaz de superá-lo até que precisa rever os seus conceitos. Ao longo das cinco partidas, o filme consegue retratar muitíssimo bem a tensão no ar. A atenção dos espectadores, os comentários feitos pela mídia em torno do desafio e especialmente o verdadeiro abismo que se abre diante de Lee Sedol e de quem está por perto. É uma situação impressionante de assistir. É belo e um tanto assustador, especialmente como os envolvidos se transformam ao longo daquela partida. Medo, orgulho, sucesso, fracasso e superação estão sempre presentes e nos instiga a continuar assistindo. Aos curiosos vale ressaltar que o robô AlphaGo encontra-se aposentado atualmente, mas as reflexões que gerou sobre o jogo milenar continuam fascinando os praticantes do jogo.
AlphaGo (EUA-2017) de Greg Kohns com Lucas Baker, Nick Bostrom, Lee Sedol, Joseph Choi, Arthur Guez e John Holmes. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário