Benício: da cordialidade à bestialidade.
Lançado em 2018, o longa O Animal Cordial colocou em evidência uma das diretoras mais radicais da nova geração de cineastas brasileiros. Gabriela Amaral Almeida chamou atenção da crítica pela forma sem concessões com que cria a tensão de seu projeto de estreia. Ambientado em apenas um cenários e com poucos personagens em cena, Gabriela tem coragem de criar uma narrativa que beira o absurdo de tão exagerada, mas que se conclui como um pesadelo imersivo que deve surpreender até os fãs de terror e suspense. A história se passa em um restaurante que parece estar enfrentando dias difíceis, o dono do restaurantes (Murilo Benício) não se entende com seus funcionários, especialmente com o chef Djair (Irandhir Santos). A tensão entre os dois é palpável, especialmente quando esperam ansiosos para o último cliente (Ernani Moraes) ir embora e chega um casal de emergentes pouco simpáticos (Camila Morgado e Jiddu Pinheiro). Quem parece transitar em meio à toda hostilidade sem grandes alterações é Sara (Luciana Paes), que está sempre pronta a fazer o que o patrão lhe pedir. Se o clima já era pesado, ele piora consideravelmente quando dois assaltantes entram no restaurante e o filme segue por caminhos cada vez mais inesperados. O que poderia ser um roteiro sobre dois ladrões e seus reféns em um local fechado vira do avesso quando o dono do restaurante resolve cuidar da situação da pior forma possível. Tudo sai do controle e o que vemos beira o surreal com os personagens reféns de uma violência crescente. Para não tornar seu filme apenas um espetáculo de violência estilosa, Gabriela Amaral utiliza um verniz de comentários sociais através da história, explora a relação entre patrão e empregados, diferenças de classes, preconceitos, assédios e outros elementos sempre por um caminho incomum, o que causa estranhamento e uma certa repulsa diante do que apresenta. É verdade que em alguns momentos investe na caricatura e exageros cômicos (como a cena de sexo esquisita que apresenta lá no meio da história) e ousa cortes estranhos (o desfecho entre Djair e o patrão). Ainda que O Animal Cordial não seja para todos os gostos é preciso ressaltar que Gabriela Amaral realiza um belo trabalho, mantendo a sensação de um horror constante que não pausa para respirar em momento algum, além disso tem um ótimo domínio de toda a embalagem do seu filme (trilha sonora, fotografia, o trabalho com cores e sombras, o cuidado com os créditos iniciais) o que torna seu filme um exagero bastante coeso.
O Animal Cordial (Brasil-2018) de Gabriela Amaral com Murilo Benício, Luciana Paes, Irandhir Santos, Ernani Moraes, Camila Morgado, Jiddu Pinheiro e Humberto Carrão. ☻☻☻
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