No meio da atribulada temporada de ouro passada, de vez em quando alguém apontava que Todos Estão Falando de Jamie poderia ser lembrado nas premiações. Imaginei que o marketing do filme lhe garantiria pelo menos as vagas nas categorias de comédia/musical do Globo de Ouro (o que faria muita mais sentido do que aquela lembrança inexplicável de Music dirigido pela cantora SIA), no entanto, o longa passou em branco nas premiações. Em cartaz no Prime Video, o filme sobre a história do adolescente que sonha em ser drag queen vale uma olhada, mas vá sem muitas expectativas, já que diante do material que tem em mãos, o filme não se afasta muito de sua zona de conforto. O filme conta a história de Jamie New (Max Harwood), um adolescente que não tem problemas de celebrar sua sexualidade após passar anos ouvindo piadinhas e comentários preconceituosos na escola. Quando o filme começa com as conversas em sala de aula sobre "o que você vai ser quando crescer", Jamie afirma que quer ser artista, mas não especifica que a ideia que ganha forma na sua cabeça é se tornar uma drag queen (e ir vestido à caráter no baile de formatura). A maneira como esta ideia se constrói é o que inspira as músicas que compõem a trilha sonora do filme. Baseado em um musical que se tornou febre na Inglaterra (e depois ganhou versões em outros países), Todos Estão Falando de Jamie traz as músicas que ganharam os palcos e uma canção inédita (que tem o mérito de contextualizar historicamente o surgimento da cultura drag), mas o espetáculo sofre em sua transposição para o cinema. A começar que o roteiro cinematográfico não aprofunda pontos importantes da história como o bullying sofrido pelo personagem, ou a cena de agressão sofrida pelo protagonista, os coadjuvantes também nunca recebem contornos tridimensionais, limitando-se a estereótipos como a amiga motivadora, a mãe zeloza, o valentão idiota, a professora preconceituosa, o pai bronco... além disso, o filme sucumbe (ainda que de maneira bastante estilosa) à sensação de que um musical precisa ser uma colagem de videoclipes (o que por vezes quebra o ritmo da narrativa, não apenas aqui, mas em vários filmes do gênero recentes). O que salva o filme mesmo é o trabalho do estreante Max Harwood que tem momentos luminosos na pele de Jamie e, especialmente, o veterano Richard E. Grant que rouba as cenas em que aparece como Hugo, ou melhor Coco Chanelle - espécie de mentora de Jamie. Não fossem os dois, o filme poderia ser uma decepção pelo excesso de drama pasteurizado que toma o lugar da animação de seu personagem ao longo da sessão. Baseado em uma história real, talvez o que mais me incomode no filme é imaginar que ele investiria em uma pegada mais próxima de Hedwig (2001 - uau, acabei de descobrir que completou vinte anos!!!) ou até Priscila, Rainha do Deserto (1994), mas o filme vai por outro caminho menos festivo e mais inofensivo cinematograficamente.
Todos Estão Falando de Jamie (Everybody is talking about Jamie/2021) de Jonathan Butterell com Max Harwood, Richard E. Grant, Lauren Patel, Sarah Lancanshire, Samuel Bottomley, Sharon Horgan e Ralph Ineson. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário