Lilly e Tye: missão espacial em risco.
Afetado ainda pela pandemia, Voyagers chegou aos cinemas numa época de bilheterias minguadas, mas bem que merecia um pouco mais de atenção. Não que o novo longa de Neil Burger esteja destinado a se tornar um clássico, mas pelo menos o filme toca em alguns temas bastante atuais com verniz de ficção-científica. O longa gira em torno de um grupo de jovens que está destinado a viajar pelo espaço para colonizar um novo planeta. Concebidos e educados para serem astronautas desde pequenos, eles estão cientes de sua missão ao crescerem em uma nave espacial junto ao mentor designado para a missão, o atencioso Richard (Collin Farrell). No entanto, a chegada da adolescência e seus hormônios são sempre capazes de gerar problemas... a começar quando dois amigos tripulantes Christopher (Tye Sheridan) e Zac (Fionn Whitehead) começam a desconfiar de uma substância identificada em seus organismos, a qual, logo descobrem que é utilizada para, digamos, inibir alguns traços de personalidade que possam ser prejudiciais para a missão que possuem. Assim, Chris e Zac param de ingerir a substância em começam a mudar o comportamento. A primeira mudança se relaciona com o interesse sexual pelas garotas a bordo. Se antes os sexos conviviam com a maior naturalidade, agora, a libido começa a aflorar e, com poucos adultos por perto, você pode imaginar o que acontece - ou pelo menos imagina, já que o filme é bastante pudico neste aspecto (ainda que no Brasil tenha recebido o acréscimo de Instinto e Desejo no título e um pôster sugestivo com Tye e Lilly-Rose Depp, a filha de Johnny Depp com Vanessa Paradis). Zac se torna cada vez mais agressivo e se em determinado momento o bom moço Christopher é eleito líder do grupo, seu colega de viagem sabe exatamente o que fazer para mexer com o imaginário dos demais e instalar um processo de paranoia perante uma "ameaça alienígena" que diz estar a bordo. Esta ameaça alienígena logo se torna motivação para segregação, exclusão e até execuções. O que era para ser uma missão espacial se torna uma alegoria sobre a humanidade e a dificuldade que possui de perceber quando perde as estribeiras. Voyagers tem uma bela ideia nas mãos para o cenário político-social atual, mas poderia ser um tantinho mais provocador nas questões que aborda. Sobretudo no desfecho simplista (que provocou um riso nervoso pela solução dos problemas ser exatamente o que deu errado anteriormente), mas para o roteirista Neil Burger fazer outra tentativa pode funcionar perante os personagens voláteis que tem nas mãos. No fundo ele é mais do que um otimista (é um iludido mesmo). Ainda que não explore plenamente suas possibilidades enquanto ficção-científica e alegoria política, Voyagers toca em questões interessantes - mesmo que não saiba muito bem como lidar com elas.
Voyagers - Instinto e Desejo (Voyagers - EUA/2020) de Neil Burger com Tye Sheridan, Fionn Whitehead, Lilly-Rose Depp, Colin Farrell, Chanté Adams, Madison Hu, Archie Ranaux, Wern Lee e April Grace. ☻☻☻
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