Chris e Melissa: ninho a ser reconstruído.
Quando Um Ninho Para Dois começa vemos o casal Lilly (Melissa McCarthy) e Jack (Chris O'Dowd) pintando a parede do quarto da pequena filha de ambos, Katie, que os observa enquanto os dois conversam sobre o que ela será quando crescer. Confesso que pensei que era um filme sobre um casal que tentava engravidar em que o filme começava pelo final, mas nos minutos seguintes eu descobri que era o oposto. Logo depois desta cena nós percebemos que algo mudou na vida do casal que está melancólico em lugares separados, tentando conversar e superar a morte da menina. Se Lilly ainda tenta trabalhar no supermercado e cuidar da casa, para Jack restou internar-se num centro de tratamento psiquiátrico depois que tomou atitudes drásticas após a perda. Ah, claro, conforme uma das tomadas iniciais deixa claro, a narrativa sobre a vida do casal se mistura a de um estorninho, um passarinho bastante territorialista que resolveu fazer ninho no quintal de Lilly - e não hesita em atacá-la sempre que ela aparece no quintal. Parece uma mistura estranha, mas poucos diretores conseguiriam orquestra-la de forma convincente como Theodore Melfi, diretor do premiado Estrelas Além do Tempo (2016) e que antes trabalhou com Melissa em Um Santo Vizinho (2014). Melfi está em seu quarto longa-metragem e consegue equilibrar, com rara maestria drama e comédia numa mesma produção. Pois é, embora o filme seja sobre algo tão doloroso quanto o luto, o diretor consegue envernizar sua narrativa com doses de humor que evitam que o filme se torne um mar de lágrimas. Colabora muito para que a trama funcione, a presença de Melissa, que é conhecida por suas comédias escrachadas, mas que demonstra ser uma atriz de respeito quando se entrega a papéis mais dramáticos. Aqui ela dá conta de uma personagem que não consegue seguir em frente depois da tragédia pessoal que vivenciou ao lado do esposo, mas é seu parceiro de cena, Chris O'Dowd que apresenta o trabalho mais comovente como o pai deprimido oscilando entre a tristeza, a raiva na desorientação mais humana do filme. Para juntar os cacos do relacionamento fragilizado, os dois contarão com a ajuda inusitada de um veterinário e ex-psicanalista (Kevin Kline) que irá tentar mostrar para ambos que não temos controle sobre tudo que acontece na vida e que, na maioria das vezes, as explicações para o acontecimentos são inexistentes. No meio de tudo isso, temos um passarinho enfezado que faz Lilly ponderar sobre raiva e fragilidade da vida. É um filme bastante simpático e eficiente que lida com uma temática bastante complicada e consegue construir uma narrativa agradável de assistir, mesmo que tenha alguns momentos sombrios pelo caminho.
Um Ninho para Dois (The Starling / EUA-2021) de Theodore Melfi com Melissa McCarthy, Chris O'Dowd, Kevin Kline, Timothy Olyphant, Skylar Gisondo, Rosalind Chao e Laura Harrier. ☻☻☻☻
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