quinta-feira, 30 de setembro de 2021

PL►Y: O Quinto Set

 
Lutz: tensão no set e fora dele. 

Minha relação com o tênis é um tanto engraçada. Não costumo acompanhar jogos ou campeonatos, mas costumo ficar interessado em filmes que retratam protagonistas ligados ao esporte. A minha mais recente descoberta foi este O Quinto Set, filme francês em cartaz na Netflix e que conta sua história com tanta perspicácia que eu até pensei que se tratava de uma história real. Aqui o protagonista é Thomas Edison (Alex Lutz), que desde a infância foi um atleta promissor, mas aos poucos as dificuldades conduziram as expectativas para baixo - e as três cirurgias no joelho não ajudaram a concretizar todos os planos que tinha em mente. Depois de mais de dezesseis anos afastado das competições, Thomas está casado com uma ex-tenista (Ana Girardot), tem um filho pequeno e ensina crianças e adolescentes a praticar o esporte. Aos 37 anos, Thomas resolve voltar para as quadras. No entanto, quando está diante do público, o que está em jogo é mais do que a técnica e as estratégias, mas vários pontos da sua trajetória. A começar pela mãe (e patroa) dona do clube em que treina seus alunos, ela sempre teve relação direta com o interesse do rapaz pelo esporte (e vivida com a fleuma costumeira de Kristin Scott Thomas) e um tanto de influência sobre o peso que começou a ter sobre os seus joelhos ombros e, não menos importante, é o efeito deste retorno sobre seu casamento, uma vez que Eve também tem seus planos e sabe o preço que a dedicação aos esportes cobra dos envolvidos. Este é  segundo filme do diretor Quentin Reynaud, e ele demonstra saber que é fundamental criar uma abordagem dinâmica das partidas que aparecem no filme e, principalmente, que os conflitos psicológicos do protagonista são capazes de dar um tempero especial quando a contagem dos sets começa. Não por acaso, conforme Thomas avança na competição, a sua relevância dá sinais de retorno enquanto a mídia faz questão de esfregar o passado em sua cara (enquanto a família prefere ressaltar a situação do presente mesmo). Reynaud faz um filme que consegue chegar no osso do seu personagem principal, especialmente pelo excelente trabalho de Alex Lutz (que já passou dos quarenta e está longe de ser um ator dos mais celebrados na França), que firma-se como um dos sujeitos mais interessantes da cinematografia francesa (ele me chamou atenção em Guy/2018, que lhe rendeu o César de Melhor ator e que vale a pena ser garimpado por aí). Com seu rosto envelhecido, postura rebelde e os olhos sempre transbordando a cobiça mesclada ao medo da derrota, seu atleta se torna bastante envolvente nas batalhas que tem pela frente. Suas parceiras de cena também estão muito bem em papéis que nas mãos de outras atrizes renderiam bem menos do que elas conseguem fazer por aqui. Embalado com uma trilha sonora tensa (muitas vezes constituída de ruídos) e uma fotografia banhada de luz, O Quinto Set é um ótimo filme, seja para quem curte o esporte ou para quem se interessa por filmes que sabem trabalhar o drama como se fosse um verdadeiro suspense psicológico.

O Quinto Set (Cinquième Set / França - 2020) de Quentin Reynaud com Alex Lutz, Ana Girardot, Kristin Scott Thomas, Jürgen Briand, Damien Gouy e Quentin Reynaud. ☻☻☻☻ 

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