quinta-feira, 23 de setembro de 2021

PL►Y: Meu Ano em NovaYork

 
Sigourney (ao centro): roubando a cena. 

Houve grande estranhamento quando My Salinger Year foi escolhido como filme de abertura do Festival de Berlim do ano passado (quando a pandemia ainda era apenas uma ameaça). Após ver o filme, boa parte dos presentes se perguntaram o motivo de uma produção tão simples ocupar um lugar de tanto prestígio em um dos festivais mais importantes do mundo. Existem algumas características que podem explicar perfeitamente todo este destaque. A primeira é que o filme tem a sempre bem-vinda Sigourney Weaver em papel de destaque, a segunda é que a direção fica por conta do canadense Phillippe Falardeau (responsável pelo ótimo O Que Traz Boas Novas/2011 filme indicado ao Oscar de filme estrangeiro em 2012 e que entrou na minha lista de filmes favoritos de 2013 ao ser lançado no Brasil), a terceira é que o filme envolve (ainda que só para dar um charme) o nome do recluso escritor J.D. Sallinger e a quarta é que o filme é agradável de assistir. A Netflix ficou atenta a estes detalhes e incorporou o filme ao seu catálogo que sempre carece de bons filmes em cartaz. Batizado por aqui com o título genérico de Meu Ano em Nova York, a história gira em torno de Joanna (Margaret Qualley), aspirante à escritora que consegue emprego em um escritório de agentes literários. O escritório é administrado pela experiente Margaret (Sigourney Weaver) que atribui à moça a tarefa de destruir as cartas de fãs endereçadas a um dos clientes mais célebres da agência: Jerome David Salinger - o famoso JD Salinger, autor do cultuado O Apanhador no Campo de Centeio (lançado originalmente em 1951).  Salinger vive recluso, não recebe ligações, não oferece entrevistas, não recebe cartas de fãs, não publica nada há tempos e isso não impede que de vez em quando, ao fazer contato com a agência que o representa, troque alguns diálogos com a jovem que sonha em ser escritora. O filme faz questão de tornar Salinger num personagem quase mítico, mas que oferece alguma simpatia (o que talvez não seja suficiente para satisfazer seus fãs que se aventurem a ver o filme), já que o que vemos a maior parte do tempo é Joanna em seus dilemas de destruir as cartas de pessoas, que assim como ela, veem a literatura como uma inspiração (basta ver a forma como ela mesma se comporta ao se deparar com escritores que admira). Além do ofício de Joanna, o filme tem várias cenas dedicadas às conversas (pouco inspiradas) dela com os amigos, momentos sobre o relacionamento dela com o novo namorado e um certo incômodo da jovem ao ver como a chefe trata a literatura como um negócio. O filme não é muito mais do que isso, mas é bem feitinho e conta com algumas curiosidades - como a estética anacrônica dos figurinos e alguns cenários (o que me deu até um choque ao ver um computador preto chegando na agência e ouvir o hit Connection do Elastica tocando numa festa... sim, o filme se passa na segunda metade dos anos 1990!!!), além disso tem aqueles momentos em que o filme quebra o realismo da narrativa (o que poderia acontecer mais vezes). Se Qualley não faz nada comprometedor no papel principal, é Sigourney que chama mais atenção em um papel que cita (ainda que indiretamente) sua personagem em Uma Secretária de Futuro (1988) de Mike Nichols (se você não viu, veja!). Quando o filme termina (sem maiores surpresas), a vontade é ver a veterana atriz (que completará em outubro seus 72 anos de vida) em novas produções. 

Meu Ano em Nova York (My Salinger Year / Canadá - Irlanda / 2021) de Phillippe Falardeau com Margaret Qualley, Sigourney Weaver, Douglas Booth, Colm Feore, Brían F. O'Byrne e Théodore Pellerin. 

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