Camila e Nicholas: Cinderela empoderada.
Relutei um pouco para escrever sobre a nova versão de Cinderela que entrou em cartaz no Prime Video, não tanto pelo filme, mas por ter lido muito do que eu gostaria de dizer em diversas críticas que saíram por aí. No entanto, vou tentar fazer algo diferente. Vou começar pela pergunta que me veio à cabeça sobre a necessidade de criar mais uma versão da história da menina órfã maltratada pela madrasta que se casa com um príncipe encantado e vive feliz para sempre. Acho que não precisa dizer que a animação Cinderela (1950) da Disney é o grande clássico cinematográfico baseado na obra dos Irmãos Grimm e que em 2015 recebeu até uma versão live action fiel ao clássico do estúdio. Por outro lado a insistência de vez por outra alguém investir em uma releitura mexe com meu imaginário... talvez o fantasma de outro clássico, o Complexo de Cinderela de Colette Dowling (lançado há exatos quarenta anos) também esteja no inconsciente de quem deseja transformar a história mais palatável para o discurso de empoderamento feminino do século XXI. Andy Tennant já tentava fazer isso com ajuda de Drew Barrymore em Para Sempre Cinderela (1998), mas lembro que muita gente não entendeu a postura destemida da mocinha e o fato do príncipe encantado não ser propriamente bonito (e nem vou mencionar o que a Carla Perez fez em Cinderela Baiana no mesmo ano). Agora é a vez da diretora Kay Cannon dar sua modernizada na história com o apelo de ter a cantora Camila Cabello à frente do elenco. Aqui, Cinderela, ou melhor, Ella sonha em ser reconhecida pelos seus dotes de estilista e costureira, mas é ridicularizada sempre que menciona que gostaria de ter seu próprio negócio - afinal, naquele tempo somente aos homens era permitido abrir um comércio. A ideia é execrada pela madrasta (Idina Menzel) e a vizinhança. Este é apenas um dos detalhes que fazem com que Cinderela lance um olhar diferente sobre a conhecida história. Aqui o príncipe Robert (Nicholas Galitzine) não leva muito a sério herdar o trono o pai (Pierce Brosnan) e a Rainha (Minnie Driver) é capaz de declarar sua insatisfação com a postura do marido, especialmente quando ignora totalmente as ideias da princesa Gwen (Tallulah Greive) para melhorias no reino. Por todo o filme existe um comentário aqui e ali que não dá a mínima para o contexto histórico da história, mas que preenche com graça o roteiro da ideia que a produção tem em mente. O problema é que nenhum destes comentários soa muito original, marcando a reprodução de um discurso que se tornou cada vez mais comum para um longa trivial que deseja ser politizado e inovador. Levando em conta que nem todo o filme empoderado pode ser Thelma & Louise (1991) ou Bela Vingança (2020), o filme até cumpre seus objetivos voltados para o público infanto-juvenil. Neste ponto, Camila Cabello (que eu conhecia somente pela parceria com Shawn Mendes no hit Señorita) cumpre seu papel sem problemas, afinal, chama a atenção do púbico alvo para a produção e tem presença bastante carismática como a mocinha que vai ao baile com um sapatinho de cristal nada confortável (presente do fado madrinho descolado vivido por Billy Porter - cujo único defeito é aparecer pouco). Ironicamente o maior problema da mocinha são os momentos de cantoria. O filme mistura canções inéditas e outras manjadas, mas padece da terrível mania de abusar do autotune (que deixa todo mundo cantando igual com voz de robô com medo de desafinar) que somada à pouca inspiração nos números musicais criam um problema para a produção ao lado do final previsível. Enfim, serve para passar o tempo. Particularmente achei esta estreia de Camila Cabello no cinema bastante promissora e prevejo sua presença em novos filmes em breve.
Cinderela (EUA - 2021) de Kay Cannon com Camila Cabello, Nicholas Galitzine, Pierce Brosnan, Indina Menzel, Minnie Driver e Billy Porter. ☻☻☻
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