Emma e Hugh: o amor guiado pela razão.
Sempre acho injusto quando chamam os filmes baseados nas obras de Jane Austen como voltados somente para o público feminino. Lembro quando ainda estava na faculdade e uma professora de História sempre ressaltava o quanto as obras da escritora eram preciosos retratos de uma cultura opressora tanto para os homens como para as mulheres. Com seus papéis tão demarcados e conveniências sociais tão rígidas é interessante como as tramas escritas por Jane podem parecer leves enquanto seus personagens sentem o peso da sociedade em que vivem sobre seus ombros. De vez em quando uma obra da escritora ganha uma nova versão no cinema ou na televisão, mas poucas conseguiram alcançar o nível de unanimidade de Razão e Sensibilidade, a primeira produção estrangeira dirigida por Ang Lee (graças à Emma Thompson que o convidou para dar vida ao seu roteiro escrito com precisão). Quando estreou, o filme surpreendeu os envolvidos com as inúmeras críticas positivas que conquistou no Festival de Berlim - que culminaram com o Urso de Ouro de Melhor Filme na mostra competitiva. O que faz o filme ser tão especial é a forma como aborda as relações amorosas guiada por duas irmãs de temperamentos bem diferentes: Elinor (Emma Thompson) e Marianne (Kate Winslet). As duas perderam o pai recentemente e sofrem com o fato de que não tem direito à herança, que deve ficar com um parente chamado John (James Fleet) que mal as visita. À família formada pelas duas irmãs, a mãe (Gemma Jones) e a irmã caçula (Emile François) cabe sobreviver com uma mesada simbólica que receberão por um longo período. Sem dotes e com a situação econômica cada vez mais complicada, o casamento parece ser a solução para as duas. No entanto, Elinor já se convenceu de que tem mais chances de continuar solteira do que encontrar um bom marido, enquanto Marianne vê o mundo com todas as possibilidades que o galanteador John Willougby (Greg Wise) lhe apresenta. Enquanto Marianne mergulha de peito aberto nas investidas de seu pretendente (sem notar que magoa profundamente outro pretendente, o coronel Christopher Brandon vivido por Alan Rickman), Elinor pensa várias vezes antes de corresponder à atenção do tímido Edward Ferrars (Hugh Grant). O filme se concentra basicamente na forma como as duas irmãs encaram o amor, seja como o sentimento avassalador que pode nos dominar (no caso de Marianne) ou como um sentimento que deve ser alimentado aos poucos para que não saia do controle (no caso de Elinor). A partir das relações entre os personagens, podemos perceber o quanto as convenções complicam as relações desde sempre, especialmente no final do século XVIII e início do século XIX, período em que Jane Austen viveu. Pelos romances que apresenta, Razão e Sensibilidade caiu como uma luva nas mãos de Ang Lee, um diretor fascinado por personagens que entram em conflito com o mundo ao seu redor. Romântico ao extremo, o filme chama a atenção pela perfeita sintonia do elenco, especialmente entre Thompson e Kate Winslet (que fora revelada no delirante Almas Gêmeas/1994 de Peter Jackson. Se Thompson já gozava o prestígio de ser reconhecida como uma das melhores atrizes do mundo (e ainda ganhou um Oscar pelo roteiro adaptado do filme), Kate já mostrava-se mais do que promissora. É dela a cena mais bela do filme, onde sua personagem enfrenta as ilusões que alimentava debaixo de uma tempestade. Razão e Sensibilidade já nasceu clássico e se você não quiser conhecer o retrato de uma época pode simplesmente torcer para que todos tenham um final feliz.
Greg e Kate: o amor guiado pela emoção.
Razão e Sensibilidade (Sense & Sensibility/EUA-1995) de Ang Lee com Emma Thompson, Kate Winslet, Hugh Grant, Greg Wise e Allan Rickman. ☻☻☻☻☻
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