quinta-feira, 27 de junho de 2013

DVD: As Vantagens de Ser Invisível


O quadriculado Charlie (Logan Lerman) e seus amigos: quase invisível.

As Vantagens de Ser Invisível é um caso raro de adaptação para o cinema, que conta com a assinatura do seu escritor na direção. Vale lembrar que nem sempre a pessoa que concebeu a trama de maneira escrita consegue traduzir as emoções através de imagens, afinal são mídias completamente diferentes. Sorte que Stephen Chbosky demonstra boa desenvoltura ao transpor as angústias de seus personagens para as telas, o cara pode não ser brilhante, mas leva a sério o trabalho atrás das câmeras. Na trama em si não existe grandes novidades, tirando um segredo ou outro, os dilemas de Charlie (Logan Lerman, bem melhor do que seus trabalhos anteriores), Sam (Emma Watson, distanciando-se de vez da Hermione de Harry Potter) e Patrick (Ezra Miller, que mais uma vez prova que merece atenção) são bastante comuns aos adolescentes, assim, deixam o desafio ao diretor de causar a identificação da plateia ou a indiferença por já ter visto esse tipo de filme centenas de vezes. Posso dizer que o sucesso do filme pelo mundo foi garantido pelo público alvo: jovens que gostam de ser retratados com seriedade nas telas e os nostálgicos. Eu me enquadro no segundo grupo. O filme me lembrou muito da minha adolescência (acho que pela primeira vez eu senti saudade dessa época ao ver um filme), talvez seja pela ambientação onde os adolescentes faziam coletâneas em fitas cassetes para os amigos, ouviam The Smiths nas festas (a sempre mencionada Asleep está no meu Ipod desde sempre) e ficavam curiosos com a sonoridade de David Bowie. Além disso, quem nunca se sentiu completamente deslocado quando muda de escola e precisa fazer amigos? Some a isso a massacrante cadeia alimentar das escolas americanas e você terá uma ideia do que o filme aborda. Charlie é um garoto que passa desapercebido com facilidade. Na escola o seu primeiro amigo  é o professor de literatura (Paul Rudd) e na família parece crescer uma abismo entre ele, o irmão (que está na faculdade) e a irmã (que está prestes a se formar), além de existir um certo sofrimento pela ausência permanente do melhor amigo falecido e da que parece ser a parente mais próxima dele, a tia (Melanie Lynskey). Charlie é um calouro e conta os dias para que deixe de ser, já que as brincadeirinhas desagradáveis dos veteranos são constantes, as coisas só começam a melhorar quando conhece Sam e Patrick, um casal que se torna irmão pelas armações do destino e que introduzem o tímido Charlie na ciranda restrita de amigos que possuem. Não é difícil imaginar que Charlie irá se apaixonar por Sam e que Patrick está prestes a sair do armário, mas Chbosky trata essas situações com tanta sensibilidade que fica difícil não se envolver com as desventuras do trio. Apesar dos namoros fadados ao fracasso, as paixões platônicas e o estresse com a admissão numa boa Universidade, os adolescentes do filme são tratados como pessoas de carne e osso com suas qualidades e defeito. A impressão é que a vantagem de ser invisível é você não se meter em confusões entre amores e amigos, não magoar pessoas que se importam com você (afinal, você nem é notado se for invisível), mas ao mesmo tempo, a vida mostra-se bastante sem graça se você não tem vivências boas ou ruins pelo caminho. No fim das contas, assim como no livro, Chbosky exibe os caminhos do crescimento de um pequeno grupo de personagens que precisa lidar com o presente, pensar no futuro e encarar o passado (que deixa marcas que muitas vezes nem queremos lembrar). Com Além desses aspectos capazes de criar identificação na maioria dos mortais, o filme ainda faz um agrado aqueles mais deslocados que se tornaram fãs de obras subversivas como The Rocky Horror Show (que eu assisti quando deveria ter uns 16 anos, mais ou menos a idade dos personagens), que recebe uma divertida paródia durante o filme. O filme ganhou o prêmio do People's Choice Awards de Melhor Filme Dramático e foi indicado ao Prêmio do Sindicato de Roteiristas dos EUA de Melhor Roteiro Adaptado. Por isso, ainda que possa ser acusado de carregar nos clichês, As Vantagens de Ser Invisível tem o mérito de contar sua história de peito aberto e provar em suas situações que um adolescente é  um ser infinito em suas possibilidades. 

As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower/EUA-2012) de Stephen Chbosky com Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Johny Simmons, Paul Rudd, Dylan McDermott e Kate Walsh.
☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário