Eduardo e Mônica é um clássico do rock nacional, além disso é uma das músicas mais populares (e fofas) da Legião Urbana. Aquele tipo de música que conta a história de personagens, mas que ao invés de toda a densidade da famosa Faroeste Caboclo (que virou filme em 2013 pelas mãos de René Sampaio), aqui a sensação é de leveza, descontração e alegria proporcionada pelo encontro com sua alma gêmea - ainda que por vezes, pareça que são diferentes demais para dar certo. Existe uma simpatia tão grande pela música que é como se aqueles personagens fossem velhos conhecidos que, sempre que ouvimos a música, lembramos que existem e a história de ambos se passa na nossa cabeça feito um filme. Levar uma história destas ao cinema era uma ideia que já parecia ter metade do apelo perante o público garantido. A outra metade ficaria por conta da capacidade do cineasta e a equipe honrarem o legado da canção em tom leve e despretensioso. No entanto, mais uma vez, tenho a sensação que René Sampaio escuta outras versões das músicas da Legião quando resolve fazer um filme sobre elas. No caso, a versão que ele ouviu de Eduardo e Mônica deveria ser um LP arranhado que e sem a parte final da faixa. Se tenho minhas reclamações sobre o filme de Faroeste Caboclo, aqui elas são maiores ainda. Em Faroeste pelo menos havia a proximidade com a atmosfera da composição de Renato Russo, aqui, ele filma o que poderia ser uma despretensiosa comédia romântica como se fosse criar um drama denso baseado em Pais e Filhos. Não combina. Pouca coisa combina para falar a verdade. Os anos 1980 parecem presentes somente na trilha sonora de hits daquele época (embora misture punks ouvindo B52's), tem muita festa estranha com gente (não tão) esquisita (este deve ser o trecho favorito do diretor sobre a história do casal). Ele também lembrou que Eduardo jogava futebol de botão com seu avô, mas desperdiça todas as chances de diálogos e assuntos que a canção oferece para as conversas entre os dois. Chega a dar raiva como as preferências de ambos é simplesmente jogada no meio das conversas até que eles comecem um romance que não ata, desata ou empolga. O Gabriel Leone está bem como Eduardo e o torna convincente com o que o roteiro capenga lhe oferece. O maior problema está na escalação de Alice Braga para viver a Mônica. Desde que soube de sua escolha achei algo bastante problemático. Todo mundo sabe que ela a personagem é mais velha que sua cara metade, mas Alice já está beirando os quarenta e está longe de ter a leveza que a personagem pediria para convencer ao lado de um garoto que "tinha dezesseis". Na sua concepção, a Mônica é uma chata prestes a ficar velha e sozinha. Assim, a diferença entre os dois aparece principalmente porque ela e Gabriel estão em filmes diferentes que teimam em se misturar por alguma magia estranha da montagem final. Difícil convencer que os dois são caras metades destinadas a passar a vida juntos, acho que nem um, nem outro são apaixonados para isso. Para completar a estranha sensação que o filme oferece, no final surge todo o elenco cantando a música com uma animação que ficou fora de todas as cenas do filme. Sendo mais denso do que precisava (ele começa com cinzas de alguém sendo jogadas ao vento e termina com o clássico verso "quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração" exposta de forma, digamos... "tão criativa"), a pretensão pesou sobre o projeto. Prefiro botar meu LP (anos oitenta, tá pessoal) e ouvir a música fazendo o filme na minha cabeça. É muito mais divertido.
Eduardo e Mônica (Brasil - 2022) de René Sampaio com Gabriel Leone, Alice Braga, Juliana Carneiro da Cunha, Otávio Augusto e Victor Lamoglia. ☻☻
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