Tautou e Kassovitz: pequenas aventuras e amor platônico.
O universo do cineasta francês Jean Pierre Jeunet nunca foi dos meus favoritos, embora considere louvável que seus filmes tenham uma assinatura muito pessoal, sempre os considerei mais instigantes do que propriamente interessantes. Se em Delicatessen (1991) ele foi revelado para o mundo, quando lançou o estranho Ladrão de Sonhos (1995) seus fãs de última hora ficaram com o pé atrás - e a coisa piorou muito mais quando aceitou dirigir Alien: A Ressurreição (1997) que colocou um ponto final gosmento na dignidade da Tenente Ripley. Às vezes um autor precisa de um tropeço gigantesco para um retorno anabolizado às suas origens, foi assim que nasceu O Fabuloso Destino de Amélie Poulain , que podemos considerar a obra-prima de Jeunet e seu filme de maior sucesso mundial. O mais interessante é que mesmo que o longa compartilhe características com toda a filmografia francesa do cineasta, Amélie é sua obra mais coerente e atrativa, tendo aquele o visual multicolorido excêntrico que tanto cativa os fãs do diretor. Amélie (Audrey Tautou, no papel de sua vida) desde garotinha teve um diagnóstico equivocado de que tinha um problema no coração por conta da aceleração (puramente emocional) de seus batimentos quando o pai (cardiologista) se aproximava dela. Isso parece o pretexto para que a menina cresça com um olhar diferente sobre o mundo. Para reforçar essa impressão, o diretor utiliza uma das vinhetas de abertura mais nostálgicas de todos os tempos, onde ainda menina, Amélie admira o formato das nuvens ou devora doces presos aos dedos. Amélie cresce e continua nutrindo um olhar fabuloso sobre o mundo, por conta disso ao encontrar uma caixa com objetos resolve procurar seu dono numa pequena aventura que lhe desperta a vontade de fazer com que as pessoas modifiquem seu olhar sobre a vida, assim, tenta aproximar amigos que julga ter afinidades dignas de um caso de amor, faz o anão de jardim de seu pai viajar pelo mundo (de forma a enviar cartões postais capazes de motivá-lo a fazer o mesmo), até reprograma telefones e modifica fechaduras para que as pessoas saiam de suas comodidades e observem os pequenos detalhes do que está ao redor. Entre essas proezas, Jeunet costura a trama com uma história de amor platônico (pelo personagem de Mathieu Kassovitz - que pouca gente lembra, era um dos cineastas mais promissores da década de 1990) e a busca de Poulain por um homem misterioso que tira fotos pela cidade (apenas para jogá-las fora). Deixando a imaginação correr solta em nome de sua protagonista, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain foi considerado por muitos uma espécie de conto de fadas contemporâneo, mas isso é um exagero. Não há nada de tão fantasioso no filme, são apenas situações que mostram o quanto a realidade pode não bastar e servir de trampolim para situações mais estimulantes e instigantes do que geralmente enxergamos. Prefiro as pessoas que consideraram O Fabuloso Destino de Amélie Poulain como o primeiro de um estilo cinematográfico: o cinema de confeiteiro. Jeunet trata suas cenas e personagens com tanta atenção que fica fácil notá-los como verdadeiros enfeites - e a cereja no centro de todo esse trabalho é a atuação de Audrey Tautou como uma heroína romântica diferente vivida com graça na medida certa com seus olhos grandes e marotos. O filme fez tanto sucesso que concorreu aos Oscars de Filme Estrangeiro, fotografia, direção de arte, som e roteiro original - além de ganhar mais de cinquenta prêmios internacionais.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain/França-2001) de Jean Pierre Jeunet com Audrey Tautou, Mathieu Kassovitz, Jamel Deboouze, Dominique Pinon, Rufus e Serge Merlin. ☻☻☻☻☻
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