Massaro: responsável pela onda Maldita. |
A rádio Fluminense foi inaugurada em 1971, mas nunca recebeu muita atenção por conta de sua programação (que passou bastante tempo conhecida por transmitir corrida de cavalos). Dez anos depoisela passou por uma reformulação quase involuntária capitaneada pelo jovem jornalista Luiz Antonio Mello, que tinha a ideia para um programa voltado para o rock. O ritmo estava meio em baixa no dial que se rendia cada vez mais à música pop radiofônica, a ideia de Mello foi aprovada por um dos diretores, só que ao invés de um programa, ele criou uma programação com 24 horas voltada somente pra o Rock'n Roll. Nascia então A Maldita, a Rádio Fluminense FM com sede em Niterói. No entanto, apesar do sucesso crescente de público, algumas regras da rádio acabavam emperrando seu faturamento, o que deixava a empresa quase sempre no vermelho (que ela amargava há tempos). A Rádio fez história, especialmente por sua característica de alavancar novas bandas de rock nacional por tocar suas fitas demo, o que ajudou a divulgar entre o público fã de rock gringo nomes como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Blitz e Barão Vermelho entre muitas outras. Sua sintonia com o ritmo e o público era tão grande que ajudou até a sugerir quem deveria tocar no Rock in Rio de 1985. As histórias da rádio estão relatadas no livro A Onda Maldita (1992) de Luiz Antonio Mello que celebrava a trajetória da Flu pouco antes de seu término em 1994. Em 2001 a rádio voltou a funcionar na AM, mas durou pouco tempo. A Maldita fez história e obviamente que toda empolgação e nostalgia que desperta pairam em torno do filme dirigido por Tomas Portella que chegou aos cinemas em maio desse ano com base no livro de Mello e um tantinho de ficção. Algumas das histórias mais lendárias da rádio estão presentes no filme que utiliza um tom de comédia para dar conta das desventuras do criador da rádio rock e seus cúmplices na empreitada de alavancar a ideia. Mello é vivido com grande energia por Johnny Massaro que dá conta das contradições do personagem de forma bastante crível. Afinal ele é o sujeito capaz de fazer discursos empolgantes para seu público, mas é incapaz de lidar com multidões e algum tempo em um elevador. O fio condutor do filme é seu romance com a locutora Alice (Marina Provenzzano) que sempre o instiga a sair de sua zona de conforto e, por conta disso, sempre rende alguns desentendimentos. Por vezes este tom de comédia romântica fica meio deslocado, mas a atmosfera de reproduzir o cenário rock nacional dos anos 1980 compensa os tropeços. Entre os destaques estão aqueles momentos em que o filme cede espaço para personagens do rock nacional e até cenas no Rock In Rio original. A colagem de anedotas da rádio soa interessante (embora o roteiro exagere no uso de palavrões que são repetidos exaustivamente em algumas cenas) e deixa claro a estrutura precária com que a rádio funcionava, contando muitas vezes somente com a boa vontade e dedicação dos envolvidos. De certa forma o filme também precisou usar sua criatividade para driblar as limitações do orçamento, utilizando versões covers de clássicos do rock internacional (para não inchar o gasto com direitos autorais). Nem preciso dizer que eu era ouvinte fiel da Maldita (inclusive quando ela ressuscitou nas ondas AM) no início de minha adolescência e que chorei quando ela terminou seus trabalhos. Por um tempo imaginei que alguém abraçaria a ideia da rádio e ela continuaria viva. Pelo menos ela sobrevive na memória dos ouvintes que assistem ao filme com o olhar nostálgico e saudoso de um tempo que não volta mais. Em um cenário musical brasileiro em que o rock está tão em baixa, fico imaginando o que uma iniciativa feito A Maldita faria para os apreciadores do Rock'n Roll nos tempos atuais. Com a audiência dispersa entre a oferta gigante dos Spotifys da vida, seria interessante ver o efeito de um novo Luiz Antonio Mello no cenário musical de hoje.
Aumenta que é Rock'n Roll (Brasil - 2024) de Tomas Portella com Johnny Massaro, Marina Provenzzano, George Salma, João Vitor Silva, Orã Figueiredo, Felipe Rocha, Flora Diegues, Joana Castro, Felipe Haiut e Charles Fricks. ☻☻☻
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