Por algum tempo foi considerado que Meu Querido Companheiro (1990) de Norman René era o primeiro filme a relatar a epidemia da AIDS nos anos 1980, o filme fez algum sucesso comercial e concorreu ao Oscar de melhor ator coadjuvante pelo trabalho de Bruce Davidson. No entanto, o primeiro filme a abordar o tema surgiu cinco anos antes: Buddies de Arthur J. Brennan Jr. O filme independente de baixo orçamento não recebeu grande distribuição nos cinemas e foi rotulado, como filme gay por um bom tempo (especialmente pelo histórico de seu diretor), mas visto hoje, ele ainda surpreende pela forma direta de sua abordagem, especialmente se imaginarmos que foi realizado no auge da propagação do HIV. O filme conta a história de Robert (Geoff Edholn) que está hospitalizado por estar muito debilitado com o vírus do qual se sabe muito pouco. Pela falta de informações, preconceitos e medo de contaminação, ele se encontra sem visitas de parentes e amigos no leito hospitalar. Por conta dessa situação que era bastante comum, um jovem rapaz desconhecido, David (David Schachter) é designado por uma serviço de assistência social para lhe fazer companhia. Conforme conversam, os dois começam a se tornar amigos e perceber como suas vivências (e temperamentos) são opostos. Robert lembra que quando assumiu sua homossexualidade sofreu rejeição da família, já a de David aceita com naturalidade. Enquanto Robert teve vários parceiros amorosos, David mora com o namorado e vive uma relação sossegada e monogâmica. Se Robert desenvolveu uma postura politizada pelos direitos dos homossexuais, David prefere cuidar de sua própria vida e não se expor em movimentos coletivos. As diferenças por vezes geram alguns conflitos entre os dois personagens, mas conseguem um certo equilíbrio na proposta do diretor em apresentar formas diferentes de vivenciar sua sexualidade nos anos 1980, ou seja, um anúncio de que o fato de ser gay não significava que todos tinham o mesmo estilo de vida. Enquanto havia poucas informações e pesquisas em torno da AIDS, crescia o discurso moralista sobre a "peste gay" e o "castigo divino", temas que eram coletados por David em uma pesquisa que realizada para publicação de um livro. Buddies apresenta uma proposta de exercício de empatia ao espectador, sobretudo diante do sofrimento e da solidão vivenciada por Robert com seus sonhos e expectativas que ficam pelo meio do caminho enquanto ele se despede da vida. A proposta do filme fica bastante vívida quando o olhar de David começa a se transformar em torno daquele rapaz. O diretor mantém o foco todo o tempo sobre os dois personagens, mantendo somente os dois em cena a maior parte do tempo (por vezes escuta-se vozes, sombras de outros personagens e figurantes em poucas cenas externas), esta opção ressalta a sensação de isolamento, mas também a ideia de cumplicidade e proximidade entre os dois. Embora o orçamento limitado seja evidente e os atores estejam apenas eficientes em cena, quando lembro do período em que o filme foi realizado e vejo a abordagem que oferece à temática, considero que Buddies envelheceu muito bem após quase trinta anos de seu lançamento. O longa se mostra como um registro importante de um tempo bastante sombrio, especialmente para a comunidade gay. Buddies é o sétimo longa-metragem de Arthur J. Brennan Jr, que o realizou com conhecimento de causa. Nascido em 1943, Arthur foi um dos pioneiros do cinema queer nos EUA, foi diretor, produtor, documentarista e faleceu em 1987 em decorrência de complicações decorridas do HIV. Assim como ele, Geoff Edholm faleceu das mesmas condições em 1989.
Buddies (EUA/1985) de Arthur J. Brennan Jr. com Geoff Edholm, David Schachter, Billy Lux e David Rose. ☻☻☻☻
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