Lou (Kristen Stewart) administra uma academia de musculação em meados dos anos 1980. Sua rotina é não baixar a guarda para os frequentadores e zelar por aquele espaço (incluindo desentupir os sanitários do banheiro com mais frequência do que ela gostaria). Ela cortou relações com o pai (o sumido Ed Harris, com madeixas impressionantes) faz algum tempo e tem uma irmã (Jena Malone) que sofre nas mãos de um marido agressivo (Dave Franco). A rotina de Lou é sem encantos, pelo menos até que ela se depara com Jackie (Katy O'Brian), uma jovem que sonha em participar de concursos de halterofilismo se ser reconhecida como a melhor da região. As duas irão se apaixonar, mas vão ter que enfrentar muitos obstáculos no caminho, entre eles o passado sombrio de Lou e o uso de substâncias perigosas por Jackie, uma mistura que gera consequências violentas para o romance idílico que pretendem vivenciar. Love Lies Bleeding é o segundo longa metragem da inglesa Rose Glass, que chamou atenção anteriormente com o ótimo Saint Maud (2019). A atmosfera dos dois não poderia ser mais diferente. Embora ambos tenham protagonistas femininas, o primeiro era todo contido e sisudo sob o peso do horror que brotava da religiosidade, seu segundo trabalho é visualmente mais exuberante, cheio de cores fortes - o que só ressalta a atmosfera nervosa da narrativa. Glass constrói uma história de amor marcada pela violência e com um verniz de body horror que não tem medo de cair no ridículo quando chega ao seu desfecho. Ela embaralha o destino das personagens num emaranhado digno dos irmãos Cohen dos velhos tempos. Glass ainda consegue arrancar um trabalho competente de Kristen Stewart que consegue a torcida da plateia tanto quanto Katy O'Brian. É verdade que em alguns momentos o romance entre as duas se enrola nas próprias armadilhas, mas a energia impressa pela diretora junto ao elenco compensa qualquer deslize na execução. O resultado consegue ser envolvente, estiloso, cru, luxuriante e surpreendente. Particularmente o filme me deixou muito curioso por imaginar o que a diretora fará daqui para frente, ao ver seu trabalho anterior imaginei que ela se tornaria uma nome imponente do terror atual, mas perante do que ela fez aqui, considero que ela é capaz de qualquer coisa. Há de se ressaltar sua habilidade absurda na construção da tensão de seus filmes, o que me deixa curioso sobre o que ela faria em um drama pesadão, daqueles que chegam com força nas premiações. Falando em premiações, a pouco conhecida Katy O'Brian está digna de reconhecimento na temporada de ouro. Sua performance luminosa na pele (ou seria musculatura?) de Jackie rouba a cena vem vários momentos, mesmo quando o filme quase cai na galhofa com seu, digamos, crescimento. Love Lies Bleeding é uma das maiores ousadias do ano.
Love Lies Bleeding - O Amor Sangra (Reino Unido - EUA/2024) de Rose Glass com Kristen Stewart, KAty O'Brian, Ed Harris, Dave Franco, Jena Malone e Anna Baryshnikov. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário