Fechando nosso #FimDeSemana Esportivo está um filme que surpreendeu o mundo inteiro quando foi anunciado como o ganhador do Oscar de Melhor Filme em 1982. Naquele ano as apostas estavam em torno de Reds (ainda mais depois que o longa deu o Oscar de direção para Warren Beatty minutos antes), mas fico imaginando se a Academia (ainda mais daquele tempo) bancaria premiar um filme ambientado na Revolução Bolchevique. O grande público estava na torcida mesmo era para Os Caçadores da Arca Perdida, o clássico de aventura de Steven Spielberg que cravou Indiana Jones na história do cinema. O grande prêmio do cinema americano não foi para um nem para o outro, mas para uma produção inglesa que era vista como o azarão perante seus concorrentes. O filme conta a história real de dois jovens atletas que sonhavam em se tornar medalhistas nas Olimpíadas de Paris de 1924 (um século atrás!). Eric Lidell (Ian Charleson) era um devoto cristão escocês que sonhava em ser missionário na China, mas que se dedica cada vez mais às corridas para incompreensão de sua esposa religiosa. A história de Lidell é contada paralelamente à de Harold Abrahams (Ben Cross), que sofre preconceito por seu judeu mesmo sendo aluno da prestigiada Universidade de Cambridge. O primeiro acredita que é seu amor a Deus que o faz ser tão rápido, o segundo acredita que se consagrar nas corridas trará o reconhecimento que sempre deseja junto aos seus pares. O diretor Hugh Hudson (falecido em 2023) realiza aqui seu segundo longa-metragem e encara o desafio de equilibrar e costurar a vida dos dois atletas na tela sem pender mais para um lado do que para o outro. O roteiro (também oscarizado) de Collin Welland insere alguns dilemas da vida dos personagens na trama, inclui também algumas implicâncias políticas de suas ações de forma que até a escolha de Sam Mussabrini (Ian Holm) para ser técnico de Abrahams gera polêmica. Muita gente critica o filme como um dos filmes menos estimulantes a ganharem o maior prêmio do cinema americano, muito se deve pela direção quadradinha de Hudson que evoca um cinemão clássico, mas um tanto sem personalidade. Esta sensação é ainda mais intensa na primeira meia hora de filme, em que a trama se estende demais na apresentação dos atletas de forma pouco empolgante, inclusive em seus relacionamentos amorosos. A situação melhora quando o filme aborda a intensificação dos treinos e a tensão das Olimpíadas (lembrando que a reprodução dos jogos merece destaque), aspectos que prendem mais a atenção do espectador. Charleson e Cross estão eficientes em cena, mas quem rouba a cena é Ian Holm (indicado ao Oscar de ator coadjuvante) como o técnico exigente (e no elenco vale destacar a presença de Brad Davis que posteriormente causou polêmica com seu trabalho em Querelle no ano seguinte). O longa também ganhou o Oscar de figurino (aspecto que se torna fundamental para a reconstituição de época). Obviamente que não posso deixar de mencionar a emblemática trilha sonora de Vangelis, que garantiu ao filme mais uma estatueta e se tornou uma espécie de trilha sonora informal das Olimpíadas. Não seria exagero afirmar que a trilha sonora ficou mais conhecida que o filme ao longo do tempo.
Carruagens de Fogo (Reino Unido / 1981) de Hugh Hudson com Ben Cross, Ian Charleson, Nicholas Farrell, Nigel Havers, Brad Davis, Daniel Gerroll, Lindsay Anderson, Nigel Davenport, Cheryl Campbell e Alice Krige. ☻☻☻
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