quarta-feira, 31 de julho de 2024

PL►Y: A Sala dos Professores

Leonie e Leonard: a verdade manipulável feito um cubo mágico.
 

Ano passado os filmes de língua não inglesa tornaram nosso ano cinéfilo muito mais interessante, tanto que na temporada de ouro, duas produções em língua estrangeira conseguiram espaço entre os dez indicados entre o Oscar de Melhor Filme (Anatomia de uma Queda e Zona de Interesse, um levou o Oscar de roteiro original, o outro de melhor som e filme internacional). Na categoria destinada aos filmes estrangeiros, alguns títulos já eram dados como certos no páreo, a surpresa ficou por conta do alemão A Sala dos Professores, que ninguém imaginava que cravaria uma indicação. Muito por conta da Alemanha ter um filme de muito mais prestígio perante a crítica (Afire de Christian Petzold), mas preferir voltar sua campanha para outro que fosse capaz de gerar mais burburinho e interesse entre os votantes da Academia. A estratégia deu certo e ofereceu visibilidade a um filme digno de debates após a sessão. O filme dirigido por Ilker Çatak é ambientado em uma escola com regras bastante rígidas que, mesmo assim, está intrigada com uma série de roubos que acontecem por lá. Após recaírem as suspeitas sobre um aluno, a professora recém-chegada Carla Nowak (Leonie Benesch) tem suas próprias suspeitas sobre o que está acontecendo e deixa a câmera de seu notebook ligada na sala dos professores. Embora a câmera não identifique o rosto do ladrão durante um roubo, a câmera permite que se visualize a roupa usada pelo ladrão. Embora cheia de boas intenções, Carla mostra-se bastante precipitada em suas ações e começa uma verdadeira guerra nas relações entre os professores, funcionários e alunos da escola. O campo de batalha instaurado afeta diretamente a relação da professora com seu melhor aluno, Oskar (Leonard Stettnisch). A gravação resulta em um emaranhado tão complicado de situações envolvendo ética, preconceitos, fake news, desinformação e um tanto de autoritarismo que lá pela metade ficamos imaginando como o filme vai resolver tudo aquilo. O roteiro escrito pelo diretor e Johannes Duncker oferece golpes seguidos na mente do espectador, ampliados ainda mais pela narrativa sem pausas para respirar. Essa ideia é ampliada pelo ótimo trabalho da atriz Leonie Benesch que transmite visível desespero pelas sucessivas vezes em que mete os pés pelas mãos e também pela trilha sonora excepcional de Marvin Miller. No entanto, conforme você percebe que muitos pontos do filme ficam soltos, o espectador já imagina que a produção não faz a mínima ideia de como resolver toda aquela situação. Ainda que deixe um gostinho de decepção em seu desfecho aberto (lembre de um amigo dizendo que "Hollywood gosta de solução, o cinema europeu gosta do problema"), A Sala dos Professores oferece uma narrativa vigorosa que impressiona por sua montagem e os desdobramentos que deixa para a imaginação do espectador. Muitas vezes reclamamos de filmes que se estendem mais do que deveriam e deixa a história se perder pelo caminho, com este aqui acontece o oposto, quando o filme termina, temos a impressão que a trama poderia se desenvolver por mais uns quinze ou vinte minutos diante das possibilidades que tinha em mãos. O filme está disponível no Max e merece atenção.

A Sala dos Professores (Das Lehrerzimmer / Alemanha - 2023) de Ilker Çatak com Leonie Benesch, Rafael Stachowiak, Eva Löbau, Canan Samadi, Michael Klammer e Leonard Stettnisch. ☻☻

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