Mike, Zendaya e John: o relacionamento como uma partida de tênis.
Tashi Donaldson (Zendaya) era uma tenista prodígio do circuito universitário, mas um acidente lhe provocou uma lesão no joelho que a afastou das quadras, ou pelo menos, a deixou nos bastidores com treinamento e agenciamento de atletas. Ela se casou com Art Donaldson (Mike Faist), um bom tenista que está em crise de confiança a algum tempo e que tem uma filha com Tashi. Art era parceiro de quadra de Patrick Zweig (Josh O'Connor) desde o início da adolescência e os dois estavam na lista de admiradores de Tashi - e chegaram a disputar a atenção dela com joguinhos de sedução e tudo mais. Rivais poderia ser só mais um filme de amigos disputando uma garota, mas se torna mais do que isso quando a todo instante explora uma tensão sexual entre os dois rapazes, que depois de anos de intimidade, talvez não percebam que são eles quase um casal. Tashi percebe isso desde o primeiro momento que os vê... e sabe que se meter no meio dos dois causará um estrago na vida dos três. É por conta deste estrago que Rivais se desenvolve através das idas e vindas no tempo para contar os pedaços da dinâmica que se instaurou entre os personagens ao longo dos anos, uma dinâmica que tornou Tashi e Art em um casal bem visto no ramo e que deixou Patrick de escanteio sem dinheiro até para pagar a hospedagem na cidade em que disputa um campeonato. Obviamente que Art e Patrick irão se reencontrar nas quadras novamente em lados opostos e, claro, que a presença de Tashi se faz presente no jogo (mesmo com ela sentada na plateia). Rivais é o novo filme de Luca Guadagnino que aqui promove mais uma vez um encontro incandescente entre seus personagens. Para isso ele conta com um roteiro em que os diálogos sempre sugerem algo mais do que é dito e a câmera sempre procura o ângulo mais lascivo para seus personagens, sempre oferecendo destaque para as curvas sutis de Tashi, as coxas de Patrick ou o tórax de Art. Só que, assim como Tashi argumenta que um jogo de tênis é um relacionamento, a vida do trio fora das quadras se torna uma espécie de jogo e parece que é a própria que está manipulando as estratégias rumo à uma vitória que nenhum dos dois sabe ao certo qual será (ou pelo menos até que sejam capazes de subverter o que está armado). O roteiro de estreia de Justin Kuritzkes (o esposo de Celine Song que estreou em Vidas Passadas/2023) lida com o tempo como se fosse uma bola, indo para lá e para cá numa quadra de tênis e revela, a cada momento, um pedaço da história daquele trio que não consegue desatar o nó emocional (e carnal) em que se meteram. Não vale a pena revelar muito mais do que se desenrola durante as duas horas de filme, mas é interessante destacar a desenvoltura do trio principal com o que tem em mãos - todos com personagens bem diferentes do que os vimos anteriormente. Josh ficou mundialmente famoso ao nos fazer repensar a compreensão que temos do Príncipe Charles na quarta temporada de The Crown (2020), Mike Faist roubou a cena como o vilanesco personagem do remake de Amor, Sublime Amor (2021) e Zendaya já é considerada uma estrela há algum tempo. A atriz merece um comentário especial já que gosto muito da forma como explora a personalidade de sua personagem nos tempos distintos em que a trama ocorre. Ela ainda convence como adolescente, mas arrasa mesmo é como a jogadora experiente assombrada por seus rancores. Embora não tenha alcançado o sucesso de bilheteria esperado, Rivais deve figurar em listas de filmes mais relevantes do ano. Para concluir, vale ressaltar que Guadagnino nunca investiu tanto em uma aura pop de uma produção (e nem estou me referindo à boa trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross), mas não se engane, o filme é tão complexo como seus filmes anteriores.
Rivais (Chalengers / EUA - Itália / 2024) de Luca Guadagnino com Zendaya, Mike Faist, Josh O'Connor, A.J. Lister, Connor Aulson e Joan McShane. ☻☻☻☻
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