Diane: personagem inspirada em história real. |
Famosa por seus trabalhos em comédias, lembro que certa vez ao ser indagada sobre os desempenhos favoritos de sua carreira, Diane Keaton disse preferir suas personagens mais dramáticas, fazendo com que muita gente lembrasse de À Procura de Mr. Goodbar de Richard Brooks. O filme foi lançado no mesmo ano de sua atuação oscarizada por Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), o papel no filme de Woody Allen lhe rendeu o Globo de Ouro de atriz em comédia, enquanto a mesma premiação a indicou ao prêmio de melhor atriz de drama pelo filme de Brooks. O duplo reconhecimento é mais do que um marco da versatilidade desta grande atriz, mas a fonte dos comentários de que seu Oscar foi por ter apresentado duas das performances femininas mais importantes daquele ano. O filme é uma adaptação do livro de Judith Rossner em que narrava a rotina da professora Roseann Quinn, uma mulher de 28 anos que lecionava para uma escola de crianças surdas de dia e de noite frequentava bares das redondezas a procura de parceiros. Nascida em uma família religiosa, Quinn não desejava se casar ou ter filhos, queria ser independente e relacionar-se com quem lhe interessasse. O movimento feminista estava em alta, mas infelizmente o mundo que Roseann desejava viver livremente ainda estava longe de existir. Baseada nesta personagem real, a protagonista de À Procura de Mr. Goodbar é Theresa Dunn (Diane Keaton) que após se apaixonar por um professor casado, começa a repensar a forma de se relacionar com os homens de sua vida, a começar pelo seu pai (Richard Kiley) que torna insustentável a relação debaixo do mesmo teto. Na família, Theresa é mais próxima da irmã Katherine (Tuesday Weld, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante), que se casou e tem uma vida sexual agitada ao lado do marido. Ao longo do filme, Thery conhece vários homens, mas alguns recebem mais destaque em sua rotina, um é o instável Tony (Richard Gere) e o outro é o assistente social James (William Atherton), que se diz apaixonado por ela, se aproxima da família Dunn e deseja se casar com ela. Se um personifica uma vida de aventuras e incertezas, o outro representa a vida tradicional da qual Theresa tenta fugir. No entanto, o roteiro faz questão de repetir que embora esses dois homens pareçam diferentes, suas atitudes podem soar igualmente estranhas e ameaçadoras. Acho estranho quando dizem que a protagonista tinha uma vida dupla, afinal o filme apresenta sua vida profissional e pessoal, não havendo nada demais na forma como a personagem vive de acordo com cada um dos ambientes a que frequenta, no entanto, a ideia de que estes dois mundos possam se chocar a assombra um par de vezes. Em alguns momentos o filme utiliza o recurso de explorar a imaginação da personagem perante o que pode lhe acontecer no futuro, geralmente utilizando um tom cômico nessas abordagens e funciona muito bem. Embora o filme tenha rostos famosos em início de carreira (Gere, Atherton e Tom Berenger), quem carrega o filme nas costas é Diane Keaton que abraça sua personagem sem julgamentos e a apresenta como uma mulher que desejava mais do que a sociedade podia lhe oferecer e, por vezes, o álcool e as drogas lhe oferecia uma fuga da realidade dissonante às suas aspirações. A atriz está perfeita em cena em toda complexidade da personagem. O diretor Richard Brooks sempre teve gosto por histórias fortes e aqui seu trabalho é bastante seguro, seja na escrita do roteiro ou na direção que sabe mudar o tom quando necessário. Se você não conhece a história do filme e pretende assisti-lo alerta de SPOILER nas próximas linhas. Obviamente que o desfecho da história não foge do que aconteceu com Roseann Dunn e o diretor trata a cena final de forma aterradora, fazendo com que Theresa nos assombre como um fantasma (Tom Berenger que dá vida ao algoz da personagem disse diversas vezes que teve pesadelos depois da cena). Há quem considere todo o alarde em torno do caso de Roseann um tom moralista sobre uma mulher que desejava viver sua sexualidade livremente. O mesmo acontece com o filme, mas visto hoje, com o distanciamento temporal de seu lançamento, À Procura de Mr. Goodbar apresenta uma abordagem arrepiante do feminicídio. Afinal, porque tanta agressividade masculina em torno da protagonista que se recusava a se contentar com o que seus amantes desejavam para ela? Vale lembrar que Madonna já disse que seu clipe Bad Girl, dirigido por David Fincher é inspirado nesse clássico underground do cinema.
À Procura de Mr. Goodbar (Looking for Mr. Goodbar / EUa -1977) de Richard Brooks com Diane Keaton, Richard Gere, Tuesday Weld, William Atherton, Tom Berenger e Richard Kiley. ☻☻☻☻
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