domingo, 3 de agosto de 2025

PL►Y: O Ano de 1985

Cory: fantasmas dos anos 1980. 

Ao final de 1985, Adrian Lester (Cory Michael Smith) resolve passar as festas de fim de ano ao lado da família que não visita há algum tempo. Obviamente que o retorno ao lugar que o viu crescer o fará reencontrar questões que fizeram parte de sua história e construção como indivíduo. Estão no mesmo lugar a religiosidade da família, a rigidez do pai (Michael Chiklis), a submissão da mãe (Virginia Madsen), a versão adulta do garoto que o perseguia na escola (Ryan Piers Williams), a amiga de infância (Jamie Chung) que não conversa com ele faz tempo... se tem alguma coisa que mudou naquele cenário é o irmão caçula, Andrew (Aidan Langford), que está prestes a entrar na adolescência e desenvolver seu próprio gosto pessoal - ainda que isso inclua gostar de ouvir Madonna para o horror de seu pai conservador. Apesar de toda educação e desenvoltura, Adrian está visivelmente desconfortável e nos momentos em que que está afastado da família, demonstra que tem algumas questões que ainda não consegue conversar com eles. Não é por acaso que o filme é ambientado em 1985, também não é ao acaso que toda hora alguém menciona um amigo chamado Leo que vive em Nova York, o fato é que O ano de 1985 é mais um filme que aborda as dificuldades em lidar com o surgimento da AIDS. Só que do macrouniverso que vimos em outras produções, este aqui parte para o microuniverso e a dificuldade de ser você, mesmo diante das pessoas que mais deveriam te amar num mundo cheio de preconceitos. Dirigido pelo malaio Yen Tan, O ano de 1985 é uma espécie de versão mais contida de É Apenas o Fim do Mundo, peça de Jean-Luc Lagarce que se tornou filme pelas mãos de Xavier Dolan em 2016, dois anos antes do lançamento desta produção independente pouco conhecida, mas que figurou em várias listas de melhores filmes daquele ano. Muito se deve  ao tom discreto da narrativa bastante sugestiva impressa pelo diretor, que ficou ainda mais mais valorizada com a fotografia em preto e branco que ao remete mais ainda à ideia de luto em um mundo em que as cores foram banidas. No entanto, o maior mérito da produção é Cory Michael Smith, um excelente ator que ficou conhecido pelo seu trabalho como o Charada da série Gotham, mas que já entregou performances memoráveis em sua carreira (sempre lembro dele como o aluno depressivo de Olive Kitteridge/2014 e recentemente ele encarnou Chevy Chase em Saturday Night/2024). O moço é um destes atores que impressionam sem precisar fazer muito e que mereciam mais atenção do público e da crítica. Sem a sensibilidade impressa por ele no personagem, o filme perderia vários degraus da intensidade que evoca. Vale destacar também o trabalho de Virginia Madsen no papel da mãe que é mais esperta do que pensam (aquela cena de despedida no carro é uma das coisas mais lindas e singelas que já vi). Disponível no Filmicca, o filme merece ser descoberto. 

O Ano de 1985 (1985 / EUA - 2018) de Yen Tan com Cory Michael Smith, Virginia Madsen, Michael Chiklis, Jamie Chung, Aidan Langford e Michael Darby. ☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário