Gotham: cidade corrompida à procura de um herói.
Depois que a Marvel lançou a série Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D - que aprofunda alguns personagens coadjuvantes de seus heróis no cinema, a DC Comics correu para lançar o seriado Gotham sobre a lendária cidade de Batman servindo de pano de fundo para a trajetória do policial James Gordon - antes de virar o Comissário Gordon (vivido nos filmes recentes por Gary Oldman). Obviamente que trabalhar o embrião da cidade que precisa de um justiceiro mascarado pede para que a gênese dos vilões clássicos dos quadrinhos seja trabalhada. Gotham parte de uma premissa irresistível para os fãs do Homem-Morcego e seu criador, Bruno Heller (das séries Roma e The Mentalist), sabe disso - tanto que evita o tom juvenil de outras séries baseadas no universo da DC... mas tem o grande desafio de criar um ambiente coerente para o aparecimento de Batman. Pra começar parece até covardia que no meio de tantos vilões (na polícia inclusive), James tenha uma dura trajetória pela frente na pele de Ben McKenzie (o astro da série The O.C.). McKenzie consegue injetar em seu personagem um equilíbrio eficaz entre testosterona e caráter num ambiente cada vezm mais sórdido - onde vilões antológicos ganham seus primeiros contornos a partir da morte dos pais de Bruce Wayne (que formavam o casal mais respeitado e influente da cidade). Outro desafio da série é criar os traços no pequeno Bruce (ainda um garoto vivido por David Mazouz) para que possamos visualizar nele o futuro herói da cidade - e ainda existem outras crianças importantes na história como Celina Kyle (Camren Bicondova, que não por acaso é uma versão adolescente de Michelle Pfeiffer) e Ivy (Clare Foley) que tem seu pai assassinado pela polícia. No entanto, o maior interesse da série está nos vilões crescidos, como o mafioso Falcone (Mark Vincent) que tenta dominar o crime na cidade. Com Edward Nigma (Cory Michael Smith) longe de ser o Charada e Harvey Dent (Nicholas D'Agosto) sem pensar em ter Duas Caras, o foco recai sobre um dos vilões mais subestimados desse universo depois que Christopher Nolan repaginou o mundo de Batman, trata-se de Pinguim. Distante do jeito cômico em que foi concebido, Pinguim oferece ao ator Robin Lord Taylor o desafio de ser primeiro grande vilão da temporada. Transformado num psicopata de visual emo, Oswald Cobblepot só não tem mais ódio ao apelido que o tornará famoso do que pelo braço direito de Falcone, a traiçoeira Fish Mooney (Jada Pinkett-Smith, a belíssima esposa do Will num personagem criado especialmente para a série) que encomendou sua morte. Diante de tantos artifícios, a série tropeça quando Bruno Heller impõe a perigosa rotina de ter um crime para resolver a cada episódio, o que é mostrado nem sempre de forma empolgante. Quando aborda os personagens que a plateia quer ver a série funciona melhor, mas quando tem crimes praticados por desconhecidos o que vemos é uma versão pobre de tantos outros seriados investigativos. Com seus três primeiros episódios exibidos pela Warner nas noites de segunda (no exterior a série é um projeto da FOX), a série já mostrou que pode ser uma das melhores da temporada se impor sua personalidade própria ao apresentar o ambiente que forja a gênese de Batman e seus inimigos. Se o caos se anuncia na trama do seriado, enquanto programa ele pode aparecer de outra forma se não conseguir controlar sua necessidade de ser convencional. Assim, Gotham pode seguir dois caminhos distintos: enriquecer ainda mais o universo de Batman ou empobrecê-lo com subterfúgios inúteis (como criar uma Barbara Gordon problemática ou um Alfred severo demais), sendo assim, é bom saber que a primeira temporada estendida de 16 para 22 episódios (graças ao sucesso de audiência) oferece a Heller mais tempo para colocar alguns pontos no eixo do programa.
Gotham (EUA-2014) de Bruno Heller com Ben McKenzie, Donal Logue, Jada Pinkett Smith, Robin Lord Taylor, Erin Richard, Camren Bicondova, Sean Pertwee e David Mazouz. ☻☻☻
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