Os Kitteridges: a dura vida no Mayne.
É público e notório que Frances McDormand é uma atriz excepcional, portanto não vou começar a falar da série Olive Kitteridge ressaltando seu talento. Eu poderia começar então elogiando Richard Jenkins, mas o veterano é um dos coadjuvantes de ouro em Hollywood há tempos - além de ser um dos meus atores favoritos. Dito isso prefiro começar no desafio que Jane Anderson assumiu quando resolveu adaptar o livro de Elizabeth Strout para outra mídia. Escrito como uma coleção de 13 histórias curtas, o livro está longe de ser um romance convencional, especialmente por conta de sua protagonista nem sempre ser o centro das atenções. Na maior parte do tempo ela apenas observa os acontecimentos narrados ao longo de 25 anos na sua cidade natal no Maine. Se a escrita do livro é não linear e com personagens demais para condensar numa série, pode-se dizer que Anderson realizou um excelente trabalho, já que conseguiu construir uma linearidade narrativa que reflete com perfeição a passagem do tempo na vida dos personagens e as transformações que atravessam. Olive (Frances McDormand) é uma professora de Matemática famosa por seu temperamento. Irascível, dona de uma sinceridade excessiva e de um humor cruel, Olive não tem muitos amigos e contrasta o tempo inteiro com o seu amoroso esposo, Henry (Richard Jenkins), farmacêutico local, querido pela comunidade. Além da companhia de Henry, Olive ainda é a mãe linha dura de Christopher (vivido pelo menino Devin Druid e por John Gallagher Jr. na idade adulta) e o cotidiano do trio é sempre enviesado por histórias de outros habitantes da cidade - seja a jovem Denise (Zoe Kazan), pela qual Henry nutre um carinho especial, um professor (Peter Mullan) próximo demais de Olive, a deprimida Rachel (Rosemary DeWitt) ou seu filho, o menino Kevin. Vale ressaltar que a narrativa utiliza alguns flashbacks para enriquecer ainda mais a história, acrescentando um dado novo sobre um determinado personagem ou fato ocorrido. Sendo assim, no segundo episódio Kevin (o ótimo Cory Michael Smith - que interpreta o Edward Nigma de Gotham) aparece crescido e fragilizado no episódio mais revelador da série. Nesse ponto, o roteiro ressalta o tema que perpassa toda a narrativa: o suicídio. Na primeira cena, Olive parece ir para um pic-nic, mas retira da cesta uma arma pouco antes da narrativa retroceder mais de vinte anos. A própria Olive é assombrada pelo suicídio do pai e teme ter passado para o filho o mesmo problema. A história dos personagens segue em momentos triviais como a festa de casamento de Christopher, uma consulta no hospital por conta de uma dor de barriga, o atropelamento de um gato e reencontros nem sempre agradáveis. A direção de Lisa Cholodenko (do sucesso Minhas Mães e Meu Pai/2010) é irretocável, precisa em sua captura dos personagens entre o drama e a comédia diária que vivenciam. Com todo o cuidado da produção, as quatro partes de Olive Kitteridge se tornam um deleite na magistral abordagem do cotidiano de pessoas comuns em suas alegrias, tristezas, vitórias e tragédias pessoais.
Olive Kitteridge de Lisa Cholodenko com Frances McDormand, Richard Jenkins, John Gallagher Jr., Cory Michael Smith, Zoe Kazan e Bill Murray. ☻☻☻☻☻
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