Scarlett: o existencialismo alienígena segundo Jonathan Glazer
Antes de se tornar diretor de cinema, o inglês Johnathan Glazer ganhou fama fazendo vídeos de estilo inacreditável. Quando estreou no cinema com Sexy Beast (2000) choveram comparações com Quentin Tarantino e Guy Richie, no entanto, Glazer parece estar disposto a provar que sua inspiração vem de outra fonte, com Reencarnação (2004) ele já flertava com os climas e silêncios do cinema de Stanley Kubrick, mas em Sob a Pele, o diretor extravasa essa referência, provando que não está afim de fazer concessões para contar a história extraída do romance de Michel Faber. Exibido no Festival de Veneza em 2013, o filme demorou muito para ser distribuído, estreando no circuito alternativo dos EUA somente em abril desse ano. No Brasil o filme estreou um mês depois, mas se não fosse estrelado por Scarlett Johansson (e cercado pelos boatos das cenas de nudez), possivelmente seria lançado sorrateiramente em DVD. O motivo dessa dificuldade para empolgar os distribuidores vem da virtuose de seu diretor praticamente não usar diálogos ou gastar o tempo explicando a trama. Preocupado em construir uma obra sensorial, Sob a Pele pode ser um programa árduo para muita gente, para outros, pode ser um deleite no uso do som e imagem. Há de se elogiar a coragem de Johansson em se afastar das superproduções e se dedicar a um filme que, sem ela, possivelmente, não seria nem produzido. Ela vive uma alienígena, encarregada de atrair homens para lugares abandonados e drenar seus corpos para produzir energia a ser enviado para seu mundo. Na maior parte do tempo ela vaga pelas ruas dentro de um furgão até encontrar sua presa. Utiliza algumas perguntas, dá a entender que existe um interesse sexual no convite e... eles desaparecem feito mágica numa substância misteriosa feito um espelho movediço. A narrativa é construída basicamente nesses encontros, com leves alterações (sobretudo quando ela atrai um homem de aparência deformada). Sutilmente, Glazer mostra que a personagem começa a nutrir alguma curiosidade pelo mundo em que foi enviada, é nesse ponto em que esquece sua tarefa e busca conhecer um pouco os prazeres humanos de estar na Terra. Glazer deixa seu filme cheio de lacunas para que o espectador as preencha com sua própria imaginação, em alguns momentos funciona, em outros nem tanto. Não me importo muito com os motoqueiros misteriosos que andam pelo filme, prefiro que concentrar por cenas meio soltas como o destino dos homens caçados pela alienígena ou a triste cena final onde existe um jogo cruel entre a humanidade e a invasora. É verdade que Glazer provoca o público de forma quase insuportável em algumas cenas (o bebê chorando à deriva na praia deve ser a pior delas). Talvez ele queira falar menos sobre a sua protagonista e mais sobre a humanidade em sua eterna busca por companhia. Os silêncios, a lentidão e as paisagens desertas criam uma atmosfera muito peculiar na construção da incômoda narrativa. Em meio ao elenco desconhecido o que dizer de Scarlett Johansson? Simplesmente não sei, como a atriz é apenas um disfarce para a versão cabeça do trash A Experiência (1995), não sei muito bem os parâmetros para apreciar sua atuação. Posso apenas dizer, que no último ato ela partiu meu coração. Acredito que depois desse filme cheio de pretensões, Jonathan Glazer vai voltar com uma obra totalmente oposta, já que mais hermético do que aqui é impossível ficar.
Sob a Pele (Under The Skin/Reino Unido - 2013) de Jonathan Glazer, com Scarlett Johansson, Jeremy McWilliams, Dougie McConnell e Kevin McAlinden. ☻☻☻
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