quinta-feira, 25 de setembro de 2014

DVD: HAWAII

Mateo e Eugenio: as engrenagens de um sentimento proibidamente consentido.  

Em tempos onde tudo parece ter que ser o mais explícito possível (seja pelo gosto da plateia ou do diretor), torna-se ainda mais interessante encontrar um filme que aposta em detalhes e pequenos sinais para contar sua história. Foi meio que por acaso que encontrei esse filme argentino que foi exibido no Festival do Rio no ano passado, mas que nem chegou a ser lançado nos cinemas - um tanto por conta de sua temática, outro tanto por conta do tratamento bastante sutil com que o diretor Marco Berger pontua o reencontro entre dois amigos de infância que não se viam há muito tempo. Berger usa uma narrativa de poucos saltos para narrar os sentimentos que passam a existir entre Martín (Mateo Chiarino) e Eugenio (Manuel Vignau), o que pode resultar num martírio para quem espera cenas polêmicas, tórridas ou uma narrativa mais abrasiva, já que Hawaii é quase arrastado, mas funciona numa precisão perfeita na engrenagem composta por um único cenário e o entrosamento entre seus dois protagonistas.  Eugenio é um escritor que passa alguns dias na casa de campo dos tios. Solitário para desenvolver sua obra, ele recebe a visita de Martín, que desempregado e sem lugar para ir, procura um trabalho. Com algum custo, Martín convence Eugenio a realizar pequenos reparos na casa, cuidar do quintal, da piscina entre outras tarefas de caseiro. Não demora muito para que Martín reconheça Eugenio como um dos meninos que costumava brincar com ele naquela mesma casa. Sem se ver por muitos anos, existe uma certa desconfiança entre os dois, mas a companhia que um encontra no outro, além de um certo sentimento nostálgico colaboram para que a amizade volte a aparecer entre os dois. Martín guarda o segredo de dormir ao relento todos os dias após o trabalho, ao mesmo tempo, Eugenio mostra-se cheio de reservas. É evidente que Berger evidencia a cada momento de seu roteiro que existe um sentimento mais forte surgindo entre os dois personagens, mas que ambos hesitam em dizê-lo ou admiti-lo. Nesse ponto, há de se elogiar as atuações de Chiarino e Vignau, que utilizam alguns olhares e leves toques para pronunciar o que seus personagens ainda querem esconder, mesmo quando o roteiro lhes reserva situações mais provocantes, os dois mantêm o tom contido que a história sugere. É como se existisse um jogo de segredos entre os dois, onde ambos compartilham as mesmas emoções, mas preferem silenciá-las. O mais interessantes é que os diálogos representam pouco diante do que vemos na tela: orgulho, relações de poder, vergonha, receio, inseguranças, estigmas... tudo disfarçado em situações simples que recebem intensidade conforme a narrativa prossegue rumo ao final - onde o título revela-se uma espécie de local paradisíaco nostálgico que só os dois lembram. Em tempos onde os romances mais ortodoxos se rendem ao escândalo, um filme como Hawaii não deixa de parecer uma novidade. 

Hawaii (Argentina/2013) de Marco Berger com Mateo Chiarino, Manuel Vignao e Manuel Martínez Sobrado. ☻☻☻

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