Emma e John: crescimento em humilhações.
Deve haver uma centena de filmes que dizem que crescer não é uma das tarefas mais fáceis do mundo. Talvez grande parte deles invista em dramas profundos para dizer isso e uma pequena porcentagem deles consiga rir das dores do crescimento. O diretor Scott Coffey soube como decorar a jornada de sua heroína recém formada - e especializada em poesia - com alguns elementos interessantes que conferem bastante graça quando ela decide seguir a carreira de escritora. É engraçado como sua idolatria por Sylvia Plath leva sua heroína a flertar com o suicídio para parecer profunda, ou como suas pretensões servem menos para conseguir um emprego e mais para criar dívidas para os seus pais. Assim, o roteiro de Andy Cochran serve para dar a medida exata do quanto Amy (a promissora Emma Roberts) se julga adulta o suficiente para ser uma revelação da literatura americana (quiçá mundial), mas ainda é jovem demais para conseguir se bancar sozinha. As coisas pioram quando numa discussão com os pais ela resolve sair de casa e consegue emprego numa loja de apetrechos sexuais fundada por um casal de idosos e gerenciada pelo simpático Alex (Evan Peters, o celebrado Mercúrio de X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido/2014). Ainda sem lugar para morar ela vai morar com uma transexual chamado Rubia (o engraçado Armando Riesco) e sua vida muda ainda mais quando ela encontra seu escritor favorito, Rat Billings (John Cusack) - que ela cisma que terá de ser mentor em sua jornada junto ao reconhecimento público. No entanto, Rat considera que Amy ainda precisa melhorar um bocado para ser uma escritora convincente e, um bom caminho para isso, é fazê-la parar de ter medo da vida e obrigá-la a viver um pouco mais antes de tornar-se a escritora que ela almeja ser. Vida de Adulto é um filme que consegue ser até original em sua condução, afinal, tem uma protagonista que escapa por pouco da antipatia da plateia (afinal, ela se beneficia da fofice de Emma Roberts, que sabe expressar que sua personagem não é chata, mas apenas padece daquela sensação de ser indestrutível tão comum nos jovens), no entanto, ela cultua um antipático de marca maior, já que Rat é pedante e não terá pudores em ofender sua fã no que ela tem de mais valioso: seu orgulho. Embora Amy se machuque no caminho (com direito até a uma noite onde ela tenta seduzir seu ídolo de uma forma hilariante - chamado carinhosamente, por ele de "a noite da bruxa"), Scott Coffey nunca deixa seu filme ser desagradável, pelo contrário, sempre escolhe um viés cômico para as situações em que a personagem se mete (incluindo as mais humilhantes). O mais curioso do filme é que embora seja ambientado nos anos atuais com presença de manifestantes, transex, críticas ao culto às celebridades e comércio de pornografia, Amy ainda possui um olhar anacrônico sobre o mundo, um certo romantismo que parece deslocado, mas que ao mesmo tempo, encontrará sua alma gêmea num lugar onde a plateia já imaginava desde o início. O mais bacana é que depois de chegar ao fundo do poço de suas aspirações (ironicamente participando de uma coletânea de jovens escritores montada por Billings), Amy encontrará seu caminho por um lado inesperado dos seus dotes literários (e que dede o início nota-se um certo medo da personagem explorar). Vida de Adulto consegue criar um retrato da escolha de uma carreira (que pode ser diferente da profissão que lhe sustenta ou do que ambiciona para sua vida) misturando referências diversas. O resultado é maldosamente divertido (especialmente para quem já superou essa fase).
Vida de Adulto (Adult World/EUA-2013) de Scott Coffey com Emma Roberts, John Cusack, Evan Peters e Armando Riesco. ☻☻☻
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