Denise Fraga: visita inesperada.
Durante o período conhecido como de "retomada" do cinema brasileiro, a paulista Tata Amaral despontou como um dos nomes mais promissores. Tata trazia um olhar diferente sobre histórias urbanas sobre personagens que pareciam comuns mas se revelavam mais complexos do que a plateia poderia imaginar. Foi assim com o casal estressado a beira do fim em Um Céu de Estrelas/1996 ou a relação intensa de mãe e filho em Através da Janela/2000, depois ela lançou um olhar mais pop sobre a periferia em Antônia/2006 (que virou até série de TV - espaço onde Tata desenvolveu seus trabalhos mais recentes). Seu retorno às telonas foi com Hoje, filme que demorou dois anos para chegar aos cinemas nacionais com uma história que se alimenta do passado mal resolvido da história recente do Brasil. Vera (Denise Fraga) é uma viúva da ditadura. Casada com um ativista político desaparecido há décadas, ela recebe uma espécie de indenização do governo pelos anos sem conhecer o paradeiro do esposo. Com o dinheiro compra um apartamento antigo e espaçoso, mas enquanto aguarda a chegada dos móveis e tenta organizar a sua nova vida, ela recebe a visita inesperada de Luiz (o uruguaio César Trancoso), o esposo desaparecido. Vera não entende muito bem o que está acontecendo, mas da forma como o filme apresenta o personagem, o espectador mais experiente irá logo captar a mensagem. Enquanto a protagonista fica entre a alegria de reencontrar o amado desaparecido e um certo desespero por ver o passado lhe fazer uma visita, Luis é todo paranoias e neuroses, chegando a ter atitudes violentas para manter sua presença em sigilo. Tata Amaral é esperta para saber que o "segredo" de Luiz não é tão secreto assim, e desenvolve sua história para além disso, estabelecendo momentos em que os personagens esclarecem um para o outro (e para a plateia) os rumos dos fatos que separaram os dois. É nessa parte que o filme fica mais cansativo num tom pesarosamente teatral e parecendo com tantas outras histórias sobre militantes brasileiros. O recurso de usar projeções sobre as paredes funciona no início, depois torna-se repetitivo e apenas ressalta como a trama funcionaria melhor sobre um palco. Nesse ponto, a ausência dos personagens secundários (como a síndica com mania de segurança e os carregadores da companhia de mudança) só ressaltam que aqueles pensamentos ocorrem num mundo paralelo, muito particular de Vera. Denise Fraga consegue dar conta das nuances diversas de sua personagem (o que pode surpreender quem está acostumado a vê-la em comédias, já César Trancoso fica o filme todo com a mesma cara e o sotaque acentuado também não ajuda muito a entender a maioria de suas falas (era tão difícil escolher um ator brasileiro para o papel?). No fim das contas, Hoje revela-se um filme interessante e diferente da maioria das produções tupiniquins que chegam às telas. No entanto, poderia ser ainda melhor se houvesse aparado alguns detalhes de sua produção.
Hoje (Brasil/2013) de Tata Amaral com Denise Fraga, César Trancoso, João Baldasserini, Pedro Abhull e Lorena Lobato. ☻☻☻
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