Buckley e Vidal: pancada verbais em rede nacional.
Recentemente vários temas de documentários receberam sua versão dramatizada nas telas de cinema. Sem muito esforço, consigo lembrar de Os Tempos de Harvey Milk/1984 (que mais tarde gerou Milk/2008), O Equilibrista/2009 (recentemente filmado com atores e se tornando A Travessia/2015), além do indicado ao Oscar What hapened, Miss Simone?/2015 (que serve quase de porta de entrada para o longa Nina que pode render prêmios para Zoe Saldaña na próxima temporada). Portanto, não vou ficar surpreso se em breve o mesmo acontecer com o provocativo Best of Enemies. O documentário retrata os debates de William F. Buckley e Gore Vidal quando o canal ABC resolveu cobrir as convenções em que os partidos democrata e republicano escolheram seus candidatos à presidência em 1968. O que poderia ser mais um programa de comentários amenos, tornou-se um verdadeiro campo de batalha quando a emissora ousou escolher dois ícones polarizantes da política americana. O conservador William F. Buckley já era conhecido por seu discurso de direita em programas da TV americana e matérias de sua revista (a National Review), sendo contratado primeiro para a cobertura ele não sabia (ou será que sabia?) no que estava se metendo quando aceitou que a emissora contratasse o polêmico escritor Gore Vidal para lhe fazer oposição diante das câmeras. O combinado rendeu dez debates que sempre desviavam do foco pretendido pela emissora, mas em compensação, retratava como a polarização ideológica pode beirar a histeria - tal e qual vemos hoje. Além de abordar os confrontos entre os dois, o filme conta um pouco da história de cada um, a origem da erudição católica de Buckley, o envolvimento da família de Vidal com a política americana, além dos pontos em que cada um tem em comum e suas diferenças. O filme ainda conta com comentários de quem conheceu os dois intelectuais que se tornaram famosos nos anos 1960 por defenderem estilos de vida completamente opostos. Afinal, para Buckley, Vidal era encarnação de toda a "imoralidade" que levaria os EUA ao fundo do poço - e Vidal enxergava em seu oponente os mesmos ideais que levaram Hitler ao poder - e tornava a Terra do Tio Sam cada vez mais excludente (tanto que as discussões sempre sínicas e sutis entre os dois perderam o rumo quando Vidal chamou Buckley de "Criptonazista" e acabou recebendo uma ofensiva resposta em rede nacional). Depois desse episódio, a imagem de ambos nunca mais foi a mesma - e nem a própria televisão (que deixou de ficar em cima do muro e passou a abrir mais espaço para conflitos, embora raramente com o mesmo nível de argumentação de Buckley e Vidal). Para além das provocações ofensivas e pomposas que os dois trocavam, o filme ainda especula a razão de tanta hostilidade entre os dois, ambos espertos, inteligentes e totalmente cientes de como a televisão seria essencial para formar discursos ideológicos no mundo que ganhava forma ainda nos moldes da guerra fria. Por outro lado, muitos consideram que o último debate entre os dois era apenas o retrato de um mundo destinado aos caos.
Best of Enemies (EUA-2015) de Robert Gordon e Morgan Neville com Gore Vidal, William F. Buckley, Noam Chomsky e vozes de Kelsey Grammer e John Lithgow. ☻☻☻☻
Best of Enemies (EUA-2015) de Robert Gordon e Morgan Neville com Gore Vidal, William F. Buckley, Noam Chomsky e vozes de Kelsey Grammer e John Lithgow. ☻☻☻☻
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