Waltz e Amy: cenas de um casamento.
Tim Burton foi bastante criticado ao realizar a cinebiografia da pintora Margaret Keane, que ficou famosa não apenas pelos seus quadros de crianças de olhos enormes, mas também por conta da terrível pendenga com o marido Walter Keane, que dizia ser o verdadeiro autor das obras populares nas décadas de 1950 e 1960. Ao assistir ao filme, você irá perceber que o problema não está no filme em si, mas na assinatura de Burton, que é famoso por seus filmes estranhos, de estética sombria, mas que aqui ele preferiu fazer um filme bastante tradicional - deixando a única estranheza a cargo das pinturas de sua biografada. Talvez os fãs do cineasta esperassem uma biografia inventiva como fizera em Ed Wood (1994), o pior cineasta de todos os tempos - mas se Burton não inova atrás das câmeras, pelo menos ele não chega a comprometer a sessão. Talvez sua maior sorte seja contar com Amy Adams no papel de Margaret Keane - pelo papel a atriz até foi premiada com o Globo de Ouro de melhor atriz de comédia/musical no ano passado e, também precisamos destacar, ter Christoph Waltz fazendo o sujeito cortês assustador também ajuda bastante a dar corpo ao espertalhão Walter Keane. Margaret conheceu Walter enquanto se recuperava do divórcio do primeiro casamento, com uma filha para sustentar, ela fazia quadros em feiras para garantir o sustento. Walter se apresenta também como pintor, mas logo que se casam, percebe que os quadros da esposa começam a chamar mais atenção. Impressiona como Margaret abre o caminho para que toda a confusão comece ao assinar com o sobrenome do esposo em suas obras, o que começa a gerar desentendimentos quando ele consegue um espaço (pouco lisonjeiro, é verdade) para expor as obras do casal. Se Margaret mostra-se tímida demais para divulgar suas obras, Walter é o completo oposto, seu estilo efusivo torna-se fundamental para que as obras comecem a receber cada vez mais atenção. No entanto, enquanto Margaret se preocupava com a arte, o esposo queria cada vez mais dinheiro, popularizando os quadros através de posteres que chegavam a ser vendidos em supermercados. Toda a farsa começou a pesar sobre a pintora, que se ressentia de nunca receber crédito por suas obras - e os quadros com sua assinatura própria, nunca receberam muito destaque. No final, com o casamento ia de mal a pior, a autoria das crianças de olhos grandes terminou decidida nos tribunais. Para além de toda discussão sobre arte que o filme promove (ainda que muito brandamente), o que achei mais interessante é o olhar interessante sobre o casamento, a esposa que abre mão de sua voz e suas ideias para viver à sombra do esposo, embora esteja incomodada por décadas - restando apenas retomar sua história nos tribunais. Embora oscilante em sua busca por equilibrar drama e comédia, Grandes Olhos merece alguma atenção.
Grandes Olhos (Big Eyes/EUA-2014) de Tim Burton com Amy Adams, Christoph Waltz, Krysten Ritter, Danny Huston, Jason Schwartzman e Terence Stamp. ☻☻☻
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