Pitt e Astrid: romance aos olhos da metafísica.
O Universo no Olhar entra para minha lista de filmes mais desengonçados de todos os tempos. Antes que os admiradores do filme comecem a jogar pedras, isso não quer dizer que o filme seja ruim, apenas que - apesar da ideia interessante - o diretor Mike Cahill não faz a mínima ideia de como contar a história que tem em mãos. A trama segue vários anos na vida do biólogo Ian Grey (Michael Pitt), que possui como objeto de estudo o olho humano. Nos tempos de faculdade ele transa com uma desconhecida de rosto coberto e passa a querer reencontrá-la, não por acaso, sua única referência é o olho da garota. Assim, enquanto realiza sua pesquisa científica ao lado da amiga Karen (Brit Marling), ele tenta reencontrar a garota desconhecida - e ele a encontrará. Ela se chama Sofi (Astrid Bergès- Frisbey) e está disposta a manter um relacionamento sério com o jovem cientista, embora comecem a aparecer grandes diferenças na forma como ambos enxergam o mundo. Ian pensa como um cientista, enquanto Karen acredita que existe um outro mundo que não conseguimos enxergar, apenas sentir. Assim, o filme começa a explorar o abismo que existe entre o ceticismo de um e a fé do outro. Talvez se o filme desenvolvesse essa relação por mais tempo eu gostasse mais dele, mas basta os dois adiarem o casamento para que eles comecem a se desentender. Ela começa a ficar desapontada com a visão científica que ele tem do mundo e ele começa a considerar que sua amada pensa feito uma criança. Resta dizer que uma guinada brusca do roteiro irá mudar a vida de todos e fazer Ian começar a questionar suas certezas após o nascimento do seu primeiro filho - que colocará em seu caminho uma menina indiana que possui olhos idênticos ao de Sofi. O filme possui três atos que seguem num ritmo oscilante de acontecimentos, para cada momento curioso existe um seguinte que parece estar sobrando. Para cada diálogo interessante existe um seguinte que não acrescenta muita coisa. São três atos que almejam ser profundos em suas pretensões científicas/metafísicas, mas que nem sempre funcionam. Minha decepção só não foi maior por conta da última parte que não chega a surpreender - mas funciona com uma carga emocional que faltou durante toda a história. Exibido em 2014 no Festival de Sundance, o longa deixou claro que o cinema de Mark Kahill é caracterizado por um jeito diferente de fazer ficção científica. Assim como fez em A Outra Terra (2011) ele explora dramas humanos diante da rupturas das certezas científicas, no entanto, o que agrada alguns pode causar bocejos. Penso que falta a Kahill a sutileza de Shane Carruth (de Primer/2004 e Cores do Destino/2013) que cria sci-fis de baixo orçamento engenhosos e de textos meticulosamente lapidados.
O Universo no Olhar (I Origins/EUA-2014) de Mark Kahill com Michael Pitt, Astrid Bergès- Frisbey, Brit Marling e Steven Yeun. ☻☻
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