Batman e Superman: o homem vs o desconhecido.
Faz tempo que não vejo um filme de super-herói gerar tanta discussão entre os fãs na internet. Portanto, vou logo dizendo: eu curti muito Batman Vs Superman. É verdade que o filme está longe de ser perfeito, mas está ainda mais distante de ser ruim. O fato é que Zack Snyder recebeu a descomunal tarefa de colocar o Superman de volta aos eixos no cinema (depois que Brian Singer falhou nessa missão), no currículo, Snyder tinha aquele que deve ser o filme de HQ mais subestimado de todos os tempos: Watchmen/2009 - que é tão atual que merece ser revisto, pelo menos, uma vez por ano. Depois que Homem de Aço (2013) estreou com sucesso, a Warner ao lado da DC Comics começou a pensar em seguir os passos da Marvel e unificar seu universo nas telonas. O que era apenas uma ideia começou a ganhar corpo nos últimos anos e a sequência de Homem de Aço começou a ganhar contornos de primeira parte de uma obra muito maior, uma verdadeira trilogia sobre a Liga da Justiça. O oscarizado roteirista Chris Terrio já disse em várias entrevistas que dar forma a esses projetos se tornou o trabalho mais difícil de sua carreira e, se você relaxar e entender isso, Batman Vs Superman fará muito mais sentido. Sabiamente o filme começa pelo final de Homem de Aço, mostrando a perspectiva de Bruce Wayne/Batman (Ben Affleck, bastante convincente) sobre toda a destruição ocorrida com a batalha entre Zod (Michael Shannon) e Superman. Não é por acaso que o nome do Homem Morcego aparece primeiro no título, afinal, o filme investe muito na forma como Batman enxerga a vinda de Superman para a Terra e tudo o que ela representa. Enquanto muitos costumam olhar para o kryptoniano como um Deus, outros o encaram como uma verdadeira ameaça (e Snyder já trabalhou essa dicotomia muito bem sobre Dr. Manhattan em Watchmen), entretanto, o roteiro não cansa de tentar humanizar o homem de aço, tanto por sua relação com Lois Lane (Amy Adams), com a mãe (Diane Lane) ou com o pai falecido (Kevin Costner) - esforço que se mostra importante para sua aproximação com Batman (que todo mundo já conhece a tragédia familiar). Entre semelhanças e diferenças, não podemos esquecer que Batman é um homem sem super-poderes que se depara com o desconhecido, um alienígena super poderoso, assim, Batman serve assim, para espelhar o estranhamento da humanidade diante de uma nova era de heróis. Se ele é um homem inteligentíssimo (embora amargo após vinte anos de luta contra o crime à margem da justiça), Superman é um herói exaltado por uma batalha épica que deixou milhares de mortos em Metrópole e... ele ainda irá se deparar com uma filha dos deuses: a Mulher Maravilha (Gal Gadot).
Mulher Maravilha (Gal Gadot): finalmente, um toque feminino.
Um dos maiores obstáculos sempre sinalizado para criar um filme da Liga da Justiça é a dificuldade de apresentar um equilíbrio entre os vários personagens que estão em cena. A Marvel foi esperta ao apresentar seus personagens separadamente para depois reuni-los em Os Vingadores (2011) e a Warner junto à DC Comics resolveu aceitar o desafio. Incluir a Mulher Maravilha ao lado de Batman e Superman pode ter sido um grande risco, mas que o filme consegue realizar de forma coerente, inserindo o alter-ego da amazona em algumas cenas, deixando uma aura de mistério até que seu segredo seja revelado e ela ajude os rapazes quando precisam de... um toque feminino. Seriedade à parte, ver os três maiores nomes da Liga da Justiça juntos na tela é bom demais! Mais complicado foi citar os outros heróis como metahumanos e inserir cenas rápidas que introduzem o que será mais explorado nos filmes da Liga. No filme o resultado fica meio desengonçado, mas sabendo que é uma trilogia dá para relevar (e perceber porque Batman fica tão preocupado com o que se aproxima). Snyder pontua os pavores do Cavaleiro das Trevas com pesadelos, cria cenas com o Homem de Aço comendo o pão que Lex Luthor (Jesse Eisenberg) amassou e deixa claro que a arma mais devastadora da humanidade não é páreo para o que está por vir. Luthor é um capítulo à parte. Eu não entendi a escalação de Jesse (achei jovem demais para o papel), mas depois que entendi exatamente qual era a intenção, o ator de A Rede Social/2010 injeta verdadeiro sangue novo (e perturbador) ao maior inimigo de Kal-El. Batman Vs Superman será criticado por ser exagerado, pesar a mão no tom sombrio, esgarçar o que os heróis tem de mais violento... mas (putz!) o filme é dirigido po Zack Snyder, oras! Ele não é sóbrio como Brian Singer ou solene como Christopher Nolan, por isso mesmo, consegue inserir algo novo no que poderia soar um pastiche (afinal, foram sete filmes do Homem Morcego e cinco do Homem de Aço, além de inúmeras séries de TV, até se juntarem na tela). Snyder ainda faz o favor de não jogar no lixo os filmes de Nolan (talvez só o Alfred, que agora tornou-se mais irônico e ofensivo... quase o filho da pá virada do personagem de Michael Caine nos filmes do Cavaleiro das Trevas), encaminhando seu desfecho para a introdução do ambicioso Liga da Justiça e não para outro filme solo do herói. Existe muito som (alto) e fúria no filme, mas seria injusto dizer que o filme é vazio de emoção. Pelo contrário, tem muita, especialmente quando percebemos que a guerra entre Batman e Superman é inglória e sem sentido, como todas as outras, mas aqui (pelo menos) ela serve para que os "inimigos" percebam que são mais semelhantes do que imaginam em sua luta por um bem comum. Essa seria a Origem da Justiça? Pelo visto, o filme acredita que sim. Que venha a Liga!
Alexander Luthor (entre Clark e Bruce): vilão renovado.
Batman Vs Superman - A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice/EUA-2016) de Zack Snyder com Ben Affleck, Henry Cavil, Gal Gadot, Jesse Eisenberg, Amy Adams, Diane Lane, Laurence Fishburne, Holly Hunter e Scoot McNairy. ☻☻☻☻
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