Michelle e Matthias: dupla de respeito.
Suite Francesa estreou nos cinemas brasileiros no final de janeiro e não chamou atenção entre a penca de obras que foram indicadas ao Oscar. Curiosamente, o filme passou por aqui antes mesmo de estrear nos Estados Unidos - que até o momento não encontrou espaço para ele nas telas. Vale dizer que qualidades não faltam ao filme, a reconstituição de época é caprichada, a fotografia é muito bem cuidada, o roteiro é eficiente e os atores estão ótimos em cena, talvez o problema para estrear por lá seja sua perspectiva um tanto polêmica: humanizar um oficial nazista através de uma história de amor. Pode parecer de mau gosto, mas as performances do belga Matthias Schoenaerts e da americana Michelle Williams conseguem nos fazer acreditar que a árdua tarefa é possível. O filme conta a história de um vilarejo na França que, durante o início da Segunda Guerra Mundial, passa a hospedar oficiais nazistas. Assim, os moradores comuns passam a ter em suas casas militares sob as ordens de Hitler, tendo a rotina diária totalmente alterada. Entre os anfitriões está Madame Angellier (Kristin Scott Thomas, ótima como sempre), uma proprietária de imóveis locais, que vive do aluguel cobrado de seus inquilinos de poucos recursos. Durante a Guerra, a madame é obrigada a conviver somente com a nora, Lucille (Michelle Williams), enquanto o filho está em combate. As duas não parecem ser muito próximas - e a chegada do tenente Bruno Von Falk (Matthias Schoenaerts) provocará mais atrito entre as duas. Embora as duas se sintam pouco a vontade com a presença do oficial, Von Falk revela-se um verdadeiro cavalheiro (além de tocar piano muito bem). Falk está longe da esposa, Lucille está longe do marido e existem faíscas (nem sempre abafadas) quando os dois estão juntos em cena. Some isso aos dramas dos moradores locais com seus hóspedes indesejados (especialmente o vivido pelo casal Sam Riley e Ruth Wilson) e você verá que a direção de Saul Dibb tem o mérito de elaborar a narrativa como se fosse uma bomba relógio. A cena do bombardeio aéreo no início (muito bem executada) deixa a impressão permanente de que a ameaça está presente e pode exterminar todos que vivem naquela ali, deixando para o romance que se anuncia a tarefa de mostrar que por trás das monstruosidades do holocausto, havia pessoas de carne e osso. A humanização de Von Falk, embora alguns possam considerar um verdadeiro absurdo, serve para desconstruir a ideia de que o nazismo foi produzido por monstros e não por seres humanos - o que torna tudo ainda mais assustador. Por isso, torna-se ainda mais importante o trabalho excepcional de Michelle e Matthias. Sempre que estão em cena, temos a impressão que em outras condições, os dois formariam um casal irresistível - mas diante da tragédia que se anuncia, cabe apenas questionar os sentimentos que sentem um pelo outro. Suite Francesa é um competente drama de época e, ao revelar a história da obra em que se inspira, deixa tudo ainda mais interessante.
Suite Francesa (Suite Française / Reino Unido - Canadá - França - Bélgica/2014) de Saul Dibb com Michelle Williams, Mathias Schoenaerts, Kristin Scott Thomas, Sam Riley, Ruth Wilson e Margot Robbie. ☻☻☻☻
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