Charlize: a arte de ver o que não existe.
Não satisfeita de ser respeitada como atriz dramática e estar entre as mulheres mais lindas do mundo, a sul africana Charlize Theron recebeu um verdadeiro coro ao redor do mundo clamando por uma indicação ao Oscar para ela no elétrico Mad Max - Estrada da Fúria. O filme terminou sendo o que mais levou estatuetas na cerimônia do Oscar 2016 (convertendo em seis prêmios das dez a que concorria), mas Charlize teve que contentar com a indiferença da Academia ao seu notável trabalho num filme de ação. Talvez o que tenha prejudicado sua campanha, seja o resultado mediano de seu outro lançamento de 2015, o suspense Lugares Escuros de Gilles Paquet-Brenner. O filme conta a história de uma escritora, Libby Day (Charlize) que sobreviveu ao massacre de sua família quando era criança. O suspeito pelo crime foi seu irmão mais velho, Ben Day, que na adolescência era suspeito de se envolver com rituais de satanismo. Na época, o testemunho de Libby foi primordial para que ele fosse considerado culpado pela morte da mãe e de duas irmãs. Trinta anos depois da tragédia, Libby é convidada a revisitar o caso com a ajuda do jovem Lyle Wirth (Nicholas Hoult), que começa a duvidar que Ben seja realmente o culpado pelo crime. Desse ponto em diante, o que vemos é a jornada de Libby pelo passado obscuro da família, das relações de Ben e o reencontro com figuras que fizeram parte da sua história na infância. Repleto de flashbacks, o diretor constrói um quebra-cabeça interessante sobre o caso em si, dando contornos interessantes para a matriarca da família (Christina Hendricks em um bom momento) e mais ainda para o jovem Ben (na juventude interpretado pelo ótimo Tye Sheridan), que de bom e voluntarioso termina acusado de um crime assustador. Ben também recebe um tratamento especial na autação de Corey Stoll na vida adulta, onde (mesmo atrás das grades) deixa o espectador em dúvida sobre a sua culpa na atrocidade que se abateu sobre a família. O filme segue cheio de revelações (às vezes cansativas) e não traz muito material para Charlize trabalhar em cena (até o figurino da personagem beira o patético com aquele bonézinho) lhe proporcionando umas duas cenas realmente interessantes. O que mais desaponta é o "final surpreendente" que não convence e deixa o gosto daqueles suspenses familiares pasteurizados da década de 1990. O filme é baseado num livro de Gyllian Flynn e admito que não conheço muito as obras da escritora, mas diante do sucesso de Garota Exemplar (onde a própria Flynn assinou o roteiro) e o resultado desse aqui, percebo alguns cacoetes estilísticos que nas mãos erradas podem beirar o ridículo. David Fincher soube fazer de Garota Exemplar uma alegoria surreal sobre a relação entre marido e esposa, já Gilles Paquet- Brenner, faz de Lugares Escuros ecoar no vazio apelativo de uma família complicada, perdendo os contornos de crítica aos preconceitos e conservadorismo no interior das terras do Tio Sam.
Lugares Escuros (Dark Places/EUA-2015) de Gilles Paquet- Brenner com Charlize Theron, Corey Stoll, Nicholas Hoult, Christina Hendricks, Tye Sheridan e Chloë Grace Moretz. ☻☻
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