O Pai e os jornalistas: registros de uma tragédia.
Na maioria das vezes em que assisto um filme de terror, eu penso que o gênero está entre os mais maltratados do cinema (ao lado das comédias românticas - e, agora, até das comédias cada vez mais cheias de baixarias e vulgaridades pouco variadas). Sendo assim, torna-se gratificante ver um filme de terror que consegue realmente assustar sem truques sanguinolentos ou serial-killers que beiram o ridículo. Esse é o caso de O Último Sacramento, que ainda consegue se safar de um cacoete recente do gênero: a câmera trêmula (que, não sei o motivo das pessoas considerarem que isso injeta realismo nas cenas que se dizem inspiradas no estilo documental - mas... que documentário esse povo anda vendo, eu não faço a mínima ideia). O filme é inspirado num caso bastante conhecido da década de 1970 sobre um grupo de seguidores de um líder religioso, que passou a viver num retiro longe da sociedade "nociva e destruidora dos valores morais e cristãos", mas o que encontraram foi um final trágico - que dá título ao filme. O roteiro utiliza um trio de repórteres do jornalismo investigativo da Vice que resolve seguir a história da irmã de um membro do grupo, o fotógrafo Patrick (Kentucker Audley). Ela passou a viver junto a um grupo no meio de uma floresta, num lugar conhecido como Paróquia Eden. Quando Patrick resolve visitar a sua irmã, consegue autorização para fazer uma matéria sobre o local e chega por lá junto com o jornalista Sam Turner (AJ Bowen) e o cameraman Jake (Joe Swanberg). Após uma longa viagem, chegam ao local e são recepcionados por homens armados, o que já começa a criar desconfiança sobre o pacifismo dos seguidores do tal grupo, mas quando encontram a tal irmã, ela faz questão de deixar claro que aquele lugar é o paraíso. Ainda desconfiados, eles acreditam que depois da entrevista com o líder, que todos chamam de Pai (Gene Jones, arrepiante), a história poderá ser passada a limpo. Não é bem assim. Pai mostra-se um líder tão carismático para o seu grupo quanto assustador para os demais, sempre citando a Bíblia e condenando a vida em sociedade - mas seu discurso deixa mais lacunas do que respostas - e o contato dos jornalistas com alguns moradores que indicam que há algo de muito errado ali só torna tudo ainda mais sinistro. Não cabe contar mais sobre o que acontece no filme, resta dizer que o diretor Ti West foi bastante elogiado pela forma como conduz a tensão de seu filme sem truques baratos, investindo apenas no horror de que o ser humano é capaz ao liderar um grupo de pessoas sem esperança. Em tempos de histeria coletiva motivada pelas redes sociais, O Último Sacramento parece ainda mais aterrorizante, especialmente pelo seu último ato perturbador - e que nos faz pensar que em alguns lugares do mundo, tudo que é apresentado está realmente acontecendo.
O Último Sacramento (The Sacramentent/EUA-2013) de Ti West com AJ Bowen, Joe Swanberg, Kentucker Audley, Gene Jones e Amy Seimetz. ☻☻☻
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