Dano: a vida e obra de Brian Wilson.
Love & Mercy foi um dos filmes independentes mais falados do ano passado - rendendo indicações para melhor ator coadjuvante a Paul Dano em mais de uma dezena de premiações (incluindo o Globo de Ouro e Independent Spirit), mas no Oscar ele acabou ficando de fora (como sempre). Dano interpreta a versão jovem de Brian Wilson nesta cinebiografia assinada por Bill Pohlad (mais conhecido como produtor de filmes como A Árvore da Vida/2011 e 12 Anos de Escravidão/2013) e cumpre sua tarefa com muita desenvoltura. Mesclando duas fases na vida do artista, a narrativa divide a história do personagem entre Dano e John Cusack, onde cada um torna-se responsável por concepções diferentes do personagem. Para Dano coube a transição do sucesso da famosa banda Beach Boys para o período mais experimental de sua carreira, iniciada com o aclamado (e fracasso de vendas na época) Pet Sounds, enquanto Cusack tem a tarefa de encarnar a fase mais devastada do artista - onde recolhido ao ostracismo, precisa lidar com os efeitos do uso excessivo de LSD na juventude e um diagnóstico equivocado de esquizofrenia paranoide que lhe rendeu anos de uso errôneo de medicação (além dos cuidados oportunistas do doutor Eugene Landy, vivido por Paul Giamatti). O diretor nem tenta disfarçar o entusiasmo em reconstituir a gravação de Pet Sounds, onde Wilson - motivado pela obra dos Beatles - resolveu ir onde nenhum músico tinha ousado até então. Das músicas praianas, Wilson teve que convencer a banda que adicionar novos instrumentos (e instrumentistas de primeira) às músicas inovadoras que tinha em mente. As sonoridades exploradas em Pet Sounds estavam a frente de seu tempo, o resultado foi a construção de uma grande sinfonia de vanguarda que terminou incompreendida na época. Se o álbum dividiu a opinião dos membros da banda (formada por dois irmãos de Brian, chamados Carl e Dennis, além do primo Mike Ardine e do amigo Alan Jardine) o desentendimento era ainda maior com o ex-empresário da banda, pai de Wilson, que não aceitava ver seu negócio familiar fugir ao seu controle comercial. Dano consegue construir minuciosamente essa jornada do personagem, até que a pressão somada ao uso de drogas alucinógenas geraram o colapso na construção do álbum seguinte (Smile). Fica evidente que o mais difícil do filme foi construir o futuro do personagem, com a saúde mental comprometida, John Cusack se esforça para manter o interesse da plateia, mas termina ofuscado pelo médico tirano (que prefere mantê-lo dopado e dependente para o resto da vida) e sua pendenga com uma vendedora de carros que se interessa amorosamente pelo músico, Melinda Ledbetter (Elisabeth Banks). Nessa parte, Wilson fica no centro da disputa entre os dois personagens e Cusack não tem muito o que fazer em cena. Sorte que Elisabeth Banks tem a generosidade de ampliar os momentos de seu colega de elenco, rendendo alguns bons momentos. Ou seja, o filme tem seus melhores momentos quando nos transporta numa viagem no tempo e presenciamos os bastidores de um dos álbuns mais influentes de todos os tempos. Com uma história dessas, tenho a impressão que quem escolheu esse título em português, simplesmente não assistiu ao filme! The Beach Boys - Uma História de Sucesso parece muito mais o anúncio de um documentário benevolente do que uma obra sobre as dificuldades atravessadas por Brian Wilson em sua trajetória. Até se mantivesse o título original (nome de uma canção de Wilson) em algo no estilo Love & Mercy: A História de Brian Wilson seria mais coerente.
The Beach Boys - Uma História de Sucesso (Love & Mercy/EUA-2015) de Bill Pohlad com Paul Dano, John Cusack, Elisabeth Banks, Paul Giamatti e Jake Abel. ☻☻☻
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