Crianças Peculiares: belo livro em adaptação decepcionante.
Não foram poucos os leram O Orfanato para Crianças Peculiares da Senhorita Peregrine do escritor Ransom Riggs e imaginaram que Tim Burton faria um filme perfeito com aquele material. Afinal, elementos que consagraram o cineasta já estavam todos presentes ali: fantasia, melancolia, personagens estranhos gerando um clima de conto de fadas gótico estranhamente ilustrado com fotografias esquisitas. Portanto, antes que estreasse, o filme já estava com a expectativa nas alturas com o trailer divulgado onde tudo parecia ser uma mistura de X-Men com Harry Potter. Mas o livro tão interessante resultou num filme insosso. A obra de Ranson consegue se sustentar belamente (no que acabou virando uma coleção de livros infanto-juvenis) por haver ali uma analogia sobre o holocausto. Em vários momentos fica claro que o tal orfanato era um refúgio para crianças que seriam procuradas e mortas por serem diferentes durante o período da Segunda Guerra Mundial., uma clara analogia ao extermínio de quem não se enquadrava nos padrões "arianos". Embora o mundo acredite que o orfanato foi destruído num bombardeio, ele sempre se reconstrói numa espécie de mundo paralelo graças a um loop temporal que a Srta. Peregrine realiza justamente no momento em tudo explodiria. Trata-se de uma fantasia que mexe com um dos momentos mais tristes da história da humanidade, mas que Riggs faz de forma bastante lúdica. Afinal, quem não gostaria de voltar no tempo e evitar todo o sofrimento provocado naquele período? Infelizmente o filme mal toca nessa questão e prefere gastar seu tempo sendo mais uma aventura de fantasia com personagens excêntricos. O orfanato e seus habitantes são descobertos graças à curiosidade de Jake (Asa Butterfield), que pretende investigar um pouco mais as estranhas histórias de infância que seu avô (Terence Stamp) sempre lhe contava. Quando ele encontra a casa mantida pela Srta Peregrine (Eva Green, a atual musa de Burton) só nos resta acompanhar a apresentação dos personagens diante da ameaça de um vilão (Samuel L. Jackson) que precisa se alimentar dos peculiares para se tornar ainda mais poderoso. De alguma forma, Burton não consegue costurar os momentos presentes no roteiro e o resultado soa tão episódico quanto Sombras da Noite/2012 - outra adaptação que lhe cairia como uma luva, só que também não funcionou. Embora o visual siga a cartilha Burton de qualidade, a narrativa não empolga e segue irregular até o desfecho. Quanto aos atores, Eva Green (cada vez mais bruxesca) e Samuel L. Jackson tem bons momentos. Judi Dench entra muda e sai calada e as crianças fazem o que podem com o pouco que o roteiro lhes oferece no desenvolvimento de personagens tão interessantes. Vale destacar que o protagonista Asa Butterfield segue em sua dura peregrinação de ser um ex-ator infantil em crescimento diante da câmera. O rapaz (que completou vinte anos em abril) parece cada vez mais inseguro, bem diferente de suas atuações (lembre dele em A Invenção de Hugo Cabret/ e você terá uma ideia do que digo) - como parâmetro basta ver o que o desconhecido Finlay MacMillan faz ao colocar muito mais substância no sisudo Enoch com menor tempo em cena. O Lar das Crianças Peculiares não foi o sucesso esperado e dificilmente irá render continuações, mas o pior de tudo é ver a criatividade de Tim Burton ficar estagnada mais uma vez com um material tão interessante para trabalhar.
Eva Green: (novamente) deliciosamente bruxesca.
O Lar das Crianças Peculiares (Miss Peregrine's Home for Peculiar Children/Reino Unido - Bélgica - EUA) de Tim Burton com Asa Butterfield, Eva Green, Samuel L. Jackson, Allison Janney, Finlay MacMillan, Chris O'Dowd, Judi Dench e Terence Stamp. ☻☻
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