Adrien: entre mortos e vivos.
Adrien Brody entrou para a história como o mais jovem ator a levar para casa o Oscar de Melhor Ator pela excepcional performance em O Pianista/2002 - e ele nem era o favorito, já que estava na disputa com outros quatro mais conhecidos e oscarizados (Nicolas Cage, Jack Nicholson, Michael Caine e Daniel Day Lewis). Brody realmente merecia o prêmio, mas ainda lembro do comentário do crítico Rubens Ewald Filho quando o ator levantou para pegar a estatueta: "Agora, o que se faz com um ator com essa cara?". A maldade era irritante, mas o tempo revelou que tinha o seu fundo de verdade em Hollywood. Brody tem traços que não se encaixam no perfil do galã tradicional (especialmente se levarmos em consideração o seu famoso nariz), mas tem talento suficiente para garantir espaço em qualquer tipo de filme - pena que ele nunca mais conseguiu chamar igual atenção de público ou crítica. Hoje ele se dedica a filmes de pequeno orçamento que nem sempre funcionam e quase sempre termina fazendo o mesmo personagem surpreso com os acontecimentos que lhe cerca. Isso acontece em Visões do Passado/2015 de Michael Petroni, filme que começa interessante carregando no suspense psicológico, mas que não demora para se enrolar nas reviravoltas sucessivas do roteiro. Aqui ele vive o psicólogo Peter Bower, que tenta se recuperar da morte da filha pequena e começa a ser procurado por uma menina misteriosa. Este é só o ponto de partida para que ele descubra que todos os seus clientes possuem algo em comum: um segredo sombrio que tem relação com seu próprio passado. Se no início o filme era intrigante, aos poucos ele se torna cada vez mais um genérico de O Sexto Sentido/1999 e aponta tantos caminhos para seguir pelo acaba se enrolando cada vez mais nos devaneios que apresenta, até que Peter precisa ajustar contas o que preferiu deixar para trás, ou melhor, esquecer - especialmente no que se refere ao seu pai (Bruce Spence). A narrativa do filme é meio engasgada, parece mais preocupada em dar o mesmo susto na plateia várias vezes, só que esquece do mais importante: desenvolver personagens. O melhor amigo de Peter, a policial que cruza o caminho do protagonista e a esposa de Peter são quase sombras no roteiro e não acrescentam nada à história. Valorizando mais os mortos do que os vivos, no fim das contas você fica com a sensação de que já viu este filme uma dezena de vezes, fica com pena de Adrien tentando dar credibilidade a uma história tão sem graça, sorte que a sensação não dura muito tempo já que o filme fica na sua memória por pouco tempo. Melhor sorte da próxima vez, Adrien.
Visões do Passado (Backtrack / Austrália - Reino Unido - Emirados Árabes / 2015) de Michael Petroni com Adrien Brody, Sam Neil, Robin McLeavy e Bruce Spence. ☻
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