Huppert e Scob: filha e mãe com a caixa de Pandora.
Mia Hansen-Love ganhou o prêmio de melhor diretora no Festival de Berlim por O Que Está Por Vir, filme estrelado por Isabelle Huppert que traz uma história que parece saída de uma novela de Manoel Carlos. Huppert interpreta Nathalie, uma professora de Filosofia que já lançou vários livros e que não demonstra ter muitas ilusões diante do mundo pós-moderno. No entanto, ironicamente, mesmo sabendo que as certezas já acabaram faz tempo, ela é humana o suficiente para se surpreender quando descobre que seu esposo a trocou por outra mulher. Existem outros fatos que afligem a protagonista, sua mãe (que já foi uma modelo de sucesso) está cada vez mais senil, os novos objetivos da editora também comprometem sua carreira de ensaísta filosófica e algum alento surge quando ela reencontra um ex-aluno, Fabien (Roman Kolinka) que serve para que eles conversem sobre ideias e livros em vários momentos do filme. Embora muitas pessoas vejan muitas camadas a serem exploradas nas cenas cotidianas da direção realista impressa pela diretora, O Que Está por Vir nunca avança muito nas ideias que apresenta. O que ocorre é apenas uma constante ruptura com o que se espera do filme, por vezes algum fato é deixado de lado para depois voltar à narrativa, mas na maioria das vezes tudo fica meio solto mesmo. É verdade que a vida é um tanto assim (e a ideia da obra é realmente causar a impressão de que está mostrando um recorte da vida daqueles personagens, como se ver um filme fosse um exercício de voyeurismo), no entanto, considero cada vez mais irritante que vários filmes que ambicionam fazer este registro drenam quase toda emoção dos personagens. Não há dúvidas de que Isabelle Huppert é uma grande atriz e capaz de fazer milagres com os roteiros que sempre defende com muita convicção, mas o filme é decepcionante. Você pode até enxergar no roteiro vários pontos assustadores do mundo atual, mas o que mais assusta é como a família de Nathalie não se importa com muita coisa - perto da última cena ela até diz isso para a filha após ser cobrada de uma atitude trivial que não realizou em determinado momento, simplesmente diz: "Como se vocês se importassem". No fundo em O Que Está por Vir ninguém se importa com muita coisa e a vida segue na mesma, entre mortes e nascimentos, entre encontros e separações, a edição relaxada cansa o espectador com Huppert andando de um lado para o outro o filme inteiro e o roteiro não hesita em sempre causar encontros entre os personagens. Meia dúzia de conversas sobre filosofia também não me convenceram do conteúdo elevado da história. Talvez não seja por acaso que a personagem que mais me chamou atenção no filme fosse a mãe de Nathalie vivida pela veterana Edith Scob (que atua desde os anos 1950), me identifiquei bastante com sua personagem que parece perder a razão diante de um mundo cada vez mais morto (ela mesma irá interpretar uma morta num trabalho que surgiu). O filme tem dois ou três momentos interessantes, mas fica por isso mesmo, o resto fica por conta do espectador preencher os diálogos e situações de significados relevantes subjetivos. Eu tentei e não consegui.
O Que Está Por Vir (L'Avenir / França - Alemanha / 2016) de Mia Hansen-Love com Isabelle Huppert, Edith Scob, Roman Kolinka, André Marcon e Yves Heck. ☻☻
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