Daniel e Felipe: a hora da verdade cheia de clichês.
Sempre me acho na obrigação de coloca um filme brasileiro entre os filmes presentes nos ciclos, mas nem sempre encontro uma produção interessante para comentar. Acabei tropeçando em comentários sobre este Quem Vai Ficar com Mário?, cujo título remete diretamente ao besteirol dos irmãos Farrelly estrelado pela aposentada Cameron Diaz. No entanto, lá pelas tantas, ele parece mais uma versão invertida de A Gaiola das Loucas (1978) e talvez a ideia funcionasse melhor se seguisse por este caminho, já que o filme em si coleciona equívocos. A história gira em torno de Mário (o mocinho global Daniel Rocha), um rapaz que disse para a família que faria seu MBA na cidade e acabou cursando literatura e virando dramaturgo. A cena de abertura deixa bem clara a identidade sexual de seu personagem, numa espécie de musical camp sobre sair do armário. A música de letra motivacional não tem muita graça, a coreografia também não, mas no filme é apresentado como se tudo aquilo fosse um sucesso. Mário é aparentemente feliz com seus amigos e o namorado diretor de teatro, Fernando (Felipe Abib), mas ele precisa ainda acertar suas contas com a família e assumir de vez os rumos que sua vida tomou - especialmente perante o patriarca (José Victor Castiel), que é dono de uma fábrica de cerveja, além de ser bastante grosseiro e preconceituoso. Quando Mário volta para a família para contar o seu segredo, eis que o irmão mais velho, Vicente (Rômulo Arantes Neto) resolve sair do armário primeiro e a reação do pai é a esperada: péssima. Logo, Mário se vê obrigado a assumir os negócios da família quando uma coach empresarial aparece para modernizar a empresa. Teoricamente, deveria rolar uma química irresistível entre Mário e Ana (Letícia Lima), algo que justificasse o título, mas não é bem isso que acontece. Sendo assim, esta primeira parte é bem arrastada, apelando para todo tipo de piada clichê, estereótipos e bobeirinhas que emperram o filme. Ele melhora um pouco quando Fernando aparece para uma visita e pouco depois toda a trupe teatral também resolve aparecer por lá. Nesta hora que o filme consegue gerar algumas piadas dignas de riso, mas são poucas diante da mania do roteiro apelar para trocadilhos e piadas prontas (mas isso já era anunciado desde que você escuta aquela piadinha infame com o nome do protagonista). Eu devo ter cochilado no momento em que faz algum sentido a atração entre Mário e Ana, já que no que era para ser um triângulo amoroso é o Fernando que se torna o personagem mais interessante (e logo o triângulo vira um quadrado, mas não vou dar SPOILER por aqui). Vendo o filme em sua cartilha desengonçada de boas intenções, eu só imaginava como seria se o filme houvesse investido naquela atração que começa a rolar entre o pai homofóbico de Mário e Lana (vivida pelo carisma habitual de Nany People), que se torna a parte mais interessante do filme, mas que é subaproveitada. Entre desencontros amorosos, a criação de uma cerveja rosa e o discurso politicamente correto de sair do armário decorado com piadinhas manjadas (incrível como em pleno século XXI elas persistem...), acho que faltou mesmo foi uma escalação de elenco mais cuidadosa, particularmente achei que Daniel, Letícia e Rômulo estavam equivocados nos seus papéis, não geram torcida ou curiosidade da plateia. Enfim, em Quem vai Ficar com Mário? , o rapaz acaba sendo quem menos importa.
Quem Vai Ficar com Mário (Brasil/2021) de Hsu Chien com Daniel Rocha, Felipe Abib, Letícia Lima, Rômulo Arantes Neto, Nany People, José Victor Castiel, Elisa Pinheiro e Marcos Breda, Alice Borges e Amélia Bittencourt. ☻☻
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