domingo, 4 de julho de 2021

#FDS Ciclo DiversidadeSXL: A Irmandade

 
Thure e David: traídos pelo desejo. 

Discursos de ódio, intolerância e preconceito são temas recorrentes nos dias de hoje, especialmente pela velocidade com que se alastraram com o advento da internet e das redes sociais. Além de gerarem violência (física, psicológica e social), eles alimentam grupos que ao longo da história já foi demonstrado claramente como podem ser perigosos. É por lidar com estes temas delicados que o dinamarquês A Irmandade recebeu elogios e levantou discussões quando foi lançado em festivais europeus. O filme conta a história de um jovem oficial do exército que é afastado das forças armadas quando descobrem que ele se insinuou para homens do pelotão que comandava. O filme não entra no mérito se trata-se de um boato ou realidade, mas a criação do comentário em si, já é considerado suficiente para que Hans (Thure Lindhart) não seja respeitado nas forças armadas. Paralela à história de Hans, conhecemos Jimmy (David Dencik), membro de um grupo neonazista que de vez em quando aparece nos noticiários por seus ataques a judeus, refugiados e homossexuais. Hans está um tanto desolado quando o grupo a que Jimmy pertence cruza o seu caminho, ele logo percebe que o discurso daquele grupo não tem muita lógica, mas é construído na medida certa para atrair jovens que se sentem inferiorizados e excluídos da sociedade. Por ser um tantinho mais esperto, Hans não é atraído para aquele grupo com facilidade - sua mãe trabalha na política local (e seu pai fala absolutamente nada na história), tem uma vida confortável e os pais insistem para que ele volte para o exército (como se ele tivesse saído por vontade própria, mas, por vergonha, ele também não conta o motivo de seu afastamento). Eis que uma discussão familiar acontece e o rapaz se muda para a casa de Jimmy. Esta ideia de ser aceito por um grupo parece fundamental para ele neste momento complicado que atravessa e, por conta disso, torna-se capaz até de abandonar suas convicções que antes pareciam tão sólidas. Hans e Jimmy são muito diferentes, mas desde o início percebemos a fagulha de algo mais entre os dois. Nos abraços agressivos, na proximidade de seus corpos, nos diálogos provocativos... sabemos que é uma questão de tempo para que algo mais aconteça entre dois - e o fato de Hans logo se destacar no grupo também colabora para complicar as coisas, especialmente pelo ciúme que começa a despertar em algumas pessoas do grupo (especialmente Patrick que... bem, melhor você tirar suas conclusões). A Irmandade é um filme de material explosivo, mas que opta pela contenção de sua narrativa. O resultado funciona envolto em melancolia e todo mundo sabe o que irá acontecer quando aquele grupo extremista descobrir que entre os seus existe um casal de amantes. O mais interessante do filme é como ele faz com que aquele relacionamento incomode por mostrar aqueles dois homens feitos de carne e osso como qualquer outro do grupo - e isso os torna tão perigosos e, os outros, muito mais vulneráveis perante os sentimentos que podem nascer entre duas pessoas. Embora explore um microcosmo, o diretor Nicolo Donato não faz feio quando precisa universalizar as emoções que a história envolve, afinal, discurso de ódio, intolerância e preconceito não são privilégios de grupos extremistas, afinal, muitas famílias e grupos sociais diversas rezam pela mesma cartilha e consideram muito natural praticar situações de violência contra homossexuais.  Exibido com elogios na Mostra Internacional de São Paulo e indicado a vários prêmios em sua terra natal, o filme não seria o mesmo sem o belo trabalho dos atores de Dencik e Lindhart, que vivem os conflitos dos protagonistas de forma bastante convincente e vigorosa. 

A Irmandade (Broderskab/Dinamarca-2010) de Nicolo Donato com David Dencik, Thure Lindhart, Nicolas Bro, Morten Holst, Lars Simonsen, Jon Lange, Claus Flygare e Hanne Hedelund. ☻☻

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