domingo, 25 de julho de 2021

PL►Y: Pinóquio

 
Roberto e Federico: um clássico direto da fonte. 

Em tempos em que a Disney investe em fazer versões de carne e osso de seus filmes clássicos, chega a ser engraçado ver o resultado da versão de Matteo Garrone para Pinóquio. No entanto, não foram poucos os que ficaram surpresos com o resultado final do filme - e realmente não sei o que esperavam. Se você conhece um pouco da carreira do cineasta italiano, você saberia que Garrone nunca imaginou fazer uma versão da animação da Disney, pelo contrário, sua ideia era beber diretamente na fonte do livro de Carlo Collodi, que era bem mais sombrio e cheio de críticas sociais (e nem precisa explicar os motivos que fizeram o clássico Pinóquio de 1940 ter sido lançado na versão infantil que chegou às telas). Vale lembrar também que Garrone é diretor de filmes violentos como o premiadíssimo Gomorra (2008) e o recente Dogman (2018), além de que já bebeu na fonte dos contos de fadas em O Conto dos Contos (2015) e alcançou um resultado bem distante do que a maioria das pessoas imaginavam de histórias consideradas infantis. Quando se aventura para histórias que nos habituamos a ver como voltadas para crianças, o olhar do cineasta está longe de ser a água com açúcar de Hollywood e mais voltada para a ótica europeia em que a literatura infanto-juvenil era associada aos dilemas morais de seus personagens, além da experiência ancestral de ensinar aos pequeninos os perigos do mundo, mesmo que isso significasse assusta-los um bocado. Não por acaso a literatura infantil europeia é cheia de bruxas, madrastas diabólicas, castigos, sacrifícios e mortes, porém, o Pinóquio de Garrone ainda é a história do boneco de madeira criado com todo amor por Gepeto (Roberto Benigni que antes já teve sua experiência traumática com o personagem naquele vexame de 2003, em que o ator oscarizado pelo sacal A Vida é Bela/1997 ousou interpretar o próprio boneco). Pinóquio é tão desobediente e mentiroso quanto ingênuo o suficiente para se meter em encrenca por mais de duas horas de filme, assim, o boneco se mete em situações que podem chocar quem espera um filme ameno para as crianças - acho que não é SPOILER dizer que Pinóquio sofre um bocado na mão de personagens espertalhões enquanto Gepeto tenta encontra-lo. Como a maioria das pessoas conhece a história através do desenho da Disney, muitos irão ficar surpresos com a inserção do Grilo Falante e da Fada Azul da forma como o filme apresenta, ou a concepção de um mundo de fantasia onde bichos ganham formas humanas e bonecos de madeira ganham vida diante da câmera sem provocar grande estranhamento dos personagens. Quem não espera uma releitura com o selo Disney o resultado soará bastante envolvente, especialmente pelo visual arrebatador que nem sempre prima pela beleza de seus personagens. Indicado ao Oscars de figurino e maquiagem, a estética do filme realmente pode ser considerado o seu maior mérito, já que diversas vezes eu me perguntei o que era gerado pelo computador e o que era real. Na tela, a utilização de todos os recursos disponíveis para trazer à vida do universo imaginado por Carlo Collodi é sem dúvida algo digno de admiração. 

Pinóquio (Pinocchio/Itália - França - Reino Unido /2019) de Matteo Garrone com Federico Ielapi, Roberto Benigni, Rocco Papaleo, Marine Vacht, Gigi Proietti e Davide Marotta. ☻☻☻

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