Felix e Benjamin: me chama pelo meu nome.
O cineasta François Ozon é o o cineasta europeu mais prolífico em atividade atualmente, chegando a lançar quase um filme por ano - e tenta fazer isso desde que estreou no cinema com o documentário Jospin s'eclaire (1995). De lá para cá já lançou de tudo: dramas, comédias, suspenses, melodramas, musicais, tragédias... é verdade que o preço da produtividade é manter a irregularidade do resultado, fazendo com que cada lançamento seja uma caixinha de surpresas: pode ser algo genial ou algo que você esquece no dia seguinte. No entanto, Ozon filma bem, traz quase sempre fluência para a sua história e, principalmente, costuma envolver seus personagens em um charme difícil de explicar (o que os torna tão sedutores para os demais sujeitos da trama como para a plateia). Em Verão de 85 este fator faz toda a diferença, já que é fácil se envolver com seus belos protagonistas. Aléxis (Felix Lefevbre) é o jovem protagonista de 16 anos que vive no litoral da Normandia e que um dia ao sair com o barco de um amigo, sofre um acidente e é resgatado por David (Benjamin Voisin), que não por acaso aparece para salvá-lo. O resgate logo se torna amizade e acaba até rendendo um emprego na loja que a mãe de David gerencia (vivida com o comprometimento habitual de Valeria Bruni Tedeschi). Os dois ficam cada vez mais próximos em um relacionamento cada vez mais intenso e poderia ser só mais uma história de amor entre dois rapazes, mas estamos falando de um filme de François Ozon. Tanto a beleza da fotografia emoldurando dois jovens atores quanto as locações belíssimas me fizeram imaginar no trailer que François Ozon queria fazer o seu Me Chame Pelo Nome (2017), mas desde o início (ou no trailer), deixava claro que existiria uma tensão na relação entre os dois rapazes - e colabora muito para isso que Alex seja tão ingênuo quanto David sabe como se aproveitar disso. No entanto, o que poderia dar um tom de suspense ao filme, acaba se diluindo gradativamente nos acontecimentos que são apresentados. Se paira no início a ideia de que Alex cometeu um crime, ela se dissolve de maneira bastante tola, deixando a sensação que o filme vendeu algo que não existia. O resultado é que na sua segunda parte o filme perde muito do seu ritmo envolvente e compromete a sessão em uma série de situações que parecem estar ali só para desmontar a funcionalidade da primeira parte. Nesta quebra brusca, quem mais sofre é a coerência da mãe de David, que parecia compreender tudo o que se passava ao seu redor e depois perde toda a lógica na trama e nem vou citar o péssimo aproveitamento de Kate (Philipine Velge) na trama. O filme é baseado no romance Dance on my Grave de Adam Chambers lançado em 1982, o que explica um pouco do clima próximo do oscarizado filme de Lucas Guadagnino, mas a impressão é que Ozon gostou do filme do colega e tentou incrementar o clima entre Oliver e Elio. A ideia funciona em sua primeira metade, mas desanda quando tenta seguir por outros caminhos.
Verão de 85 (Été 85 / França - Bélgica / 2020) de François Ozon com Félix Lefevbre, Philipine Velge, Valeria Bruni Tedeschi, Melvil Poupaud e Bruno Lochet. ☻☻☻
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