Scarlett e Florence: irmãs duras de matar.
Apesar de ter sido a primeira super-heroína a chegar pelas mãos da Marvel ao cinema, a Viúva Negra parecia ter se despedido do público em Vingadores: Ultimato (2019) sem ter recebido o protagonismo que merecia. Apesar de ser uma presença constante desde que apareceu em Homem de Ferro 2 (2010), ela sempre foi uma coadjuvante de luxo no Universo Cinematográfico da Marvel. No entanto, a Marvel sabia que havia uma grande dívida com a personagem e, também, com Scarlett Johansson. Diante do destino ingrato da personagem para salvar o mundo de Thanos, restou resgatá-la em um filme que conta um pouco mais de sua história e que se passa depois de se tornar uma fugitiva no desfecho de Capitão América: Guerra Civil (2016). É curioso que assim como em Capitã Marvel (2019), quando o estúdio investe em contar histórias de suas personagens femininas, prefere fazê-lo como uma espécie de digressão, de forma a não prejudica o andamento da teia emaranhada de sua trama principal. Aqui também este aspecto tem outro fato importante, já que serve para apresentar uma personagem que poderá honrar o legado de Scarlett, sua "irmã", Yelena (a maravilhosa Florence Pugh) que foi igualmente treinada para se tornar uma verdadeira máquina de matar, mas que é um tantinho mais casca grossa que a irmã mais velha. Como o início da sessão deixa bem claro, na infância Natasha e Yelena fizeram parte de um verdadeiro plano de espionagem de sua terra natal, sendo criadas como filhas de dois espiões russos, Melina (Rachel Weisz) e Alexei (David Harbour). É fácil perceber como a série The Americans inspirou esta parte da história, mas o roteiro adapta o drama da família utilizada como um disfarce em tempos de Guerra Fria com todas as possibilidades que a fantasia possibilita. Assim, logo depois que o disfarce não se faz mais necessário, Yelena e Natasha passam a ser treinadas pelo sanguinário Dreykov (Ray Winstone) junto a tantas outras meninas órfãs para se tornarem agentes mais que especiais. No entanto, inúmeros sacrifícios são feitos neste trajeto... o filme é calcado no reencontro de Natasha Romanoff com esta família que por algum tempo imaginou ser real, mas o laço maior de todos está entre as duas jovens que se reencontram para passar o que viveram a limpo. Posso dizer que fiquei bastante surpreso com a desenvoltura da cineasta Cate Shortland (de Síndrome de Berlim/2017) com o material que tem em mãos, sendo esperta o suficiente para driblar os vícios da Marvel e criar um filme de espionagem cheio de ação e ressentimentos a serem trabalhados pelos atores. Além disso, sabe conduzir o ótimo elenco que tem em mãos (que nos faz esquecer do maniqueísmo com que os russos são retratados por aqui), além disso, adoraria que eles rendessem participações futuras na nova fase que a Marvel tanto anuncia envolta em mistérios e adiada pela pandemia. No entanto, com todo o respeito que Scarlett merece, o centro do palco acaba ficando para Florence Pugh, que rouba a cena como uma jovem durona e com um senso de humor cheio de ironia como a forma como a mana foi retratada nos filmes anteriores. Embora o filme se perca quando se embolar nas "surpresas do caminho", Viúva Negra é um filme com uma fluência atraente em suas mais de duas horas de duração e serve para fazer um tantinho de justiça para uma personagem que poderia ter sido melhor aproveitada faz tempo.
Viúva Negra (Black Widow/EUA-2021) de Cate Shortland com Scarlett Johansson, Florence Pugh, Rachel Weisz, David Harbour, Ray Winstone, William Hurt e Olga Kurylenko. ☻☻☻
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