Chiara e Vincent: o peso do matrimônio.
A verdade é que aos vinte anos casada com o mesmo homem, Maria Mortemart (Chiara Mastroianni) nunca foi adepta da monogamia. Segura de si e com uma queda por rapazes mais novos, o seu matrimônio com Richard (Benjamin Biolay) está com os dias contados, ou pelo menos, se o filme de Christophe Honoré seguisse normas e padrões, a coisa seguiria por este caminho mais convencional. Enquanto Richard quer conversar e tentar entender como o casamento chegou naquele ponto, Maria prefere ir embora, mas não para um lugar distante, ela vai para um hotel de frente para o apartamento em que o casal viveu por tantos anos. Ali, no quarto 212 ela começa a pensar que ela não deixou de gostar de Richard, mas que o peso dos anos de rotina debaixo do mesmo teto ajudaram a causar um desgaste ao qual não estava preparada para lidar. Diante de suas reflexões ela recebe a visita do jovem Richard, com vinte e poucos anos (Vincent Lacoste), com quem parece reviver ao passado sem perder de vista os problemas do presente. Não demora para que outros personagens importantes na vida de Maria comecem a aparecer por lá também, incluindo vários dos seus parceiros sexuais, sua mãe, uma antiga rival (que está disposta a conquistar Richard mesmo depois de tanto tempo) e até a voz da consciência de Maria encarnada em Charlez Aznavour. Perante a visita de tantas pessoa que atravessam a crise matrimonial de Maria, Chiara Mastroianni tem seu trabalho mais elogiado (foi premiada em Cannes pela performance e indicada ao Cesar de melhor atriz). A filha dos gigantes Catherine Deneuve e Marcello Mastroianni, poderia facilmente fazer cara de perplexa a maior parte do tempo na brincadeira surreal que o texto de Honoré promove, mas ela prefere temperar sua personagem também com inteligência e bom humor na medida certa. Por conta disso, são nas cenas em que ela está em cena que o filme se torna mais interessante. Enquanto Quarto 212 centra seu devaneio na personagem, o filme funciona que é uma beleza, mas quando ele se desvia para o outro lado da rua o filme perde ritmo e compromete a brincadeira - muito por conta do apaixonado Richard maduro ser um bocado tedioso. Ainda que não seja perfeito, o filme é divertido e faz pensar sobre como a rotina pode esmagar o romance na vida dos meros mortais. Inusitado em sua proposta, o filme é uma grata surpresa.
Quarto 212 (Chambre 212 / França - 2019) de Christophe Honoré com Chiara Mastroianni, Vincent Lacoste, Benjamin Biolay, Camille Cottin, Carole Bouquet, Harrison Arevalo e Claire Johnston. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário