1994: a cara do terror juvenil do final do século XX.
Com o Dia dos Bruxas batendo à porta no dia 31, resolvi dedicar o #FimDeSemana de outubro aos filmes de terror disponíveis nas plataformas de streaming por aqui. Para começar, resolvi destacar a trilogia de terror que faz alguns meses está em cartaz na Netflix. Os filmes da trilogia Rua do Medo foram concebidos para ser lançados nos cinemas, mas devido à pandemia e o medo de uma bilheteria baixa, fez com que o estúdio optasse por outra estratégia de lançamento. Baseado na série de livros do escritor R.L. Stine, os filmes são pautados na maldição que paira sobre a cidade de Shadyside, que mesmo sendo aparentemente pacata, periodicamente é marcada por um morador surtado que resolve assassinar alguns moradores das redondezas. Em Rua do Medo - 1994 o assassinato acontece dentro de um shopping e começam as especulações na cidadezinha sobre o que pode ter gerado aquele acontecimento. Logo um grupo de amigos liderado por Deena (Kiana Madeira) começa a juntar as peças e perceber que existe uma estranha lógica naqueles crimes desde que a cidade executou uma jovem acusada de bruxaria e... melhor não contar mais, já que as motivações dos crimes se estendem por três filmes bem amarradinhos e que a Netflix lançou sabiamente com um intervalo curto entre um e outro (eu esperei o lançamento dos três para assistir todos de uma vez e não me arrependo, já que considero que acabou funcionando melhor assim). Também ajuda que as três partes sejam dirigidas pela mesma pessoa, no caso da diretora Leigh Janiak, que já é escolada no gênero - ela dirigiu um terror indie chamado Honeymoon (2014) que vale a pena ser peneirado por aí, além de episódios das séries Outcast e Pânico. Falando em Pânico (1996), o longa de Wes Craven é uma forte referência para o primeiro filme desta trilogia, já que a cena inicial lembra muito a quebra de paradigmas estabelecida na franquia, sendo seguida pela humor e a concepção do assassino mascarado. O tom jovem que deu novo fôlego aos Slasher Movies dos anos 1990, dá o tom por aqui oferecendo espaço para a apresentação de toda uma mitologia envolvendo a cidade e seus assassinos assustadores, além disso o filme capricha na trilha sonora noventista e põe um verniz mais atual ao colocar como par romântico central Deena e sua namorada, Sam (Olivia Scott Welch) - adolescente que se torna a principal motivação para os desdobramentos da maldição. Responsável por introduzir a história, o filme acerta em suas escolhas e aumenta a expectativa para as partes seguintes.
1978: A origem Slasher como referência. |
Se a primeira parte é baseada na reciclagem dos slashers realizada nos anos 1990, a segunda parte bebe diretamente nos clássicos do gênero, mais especificamente em Sexta-Feira 13 (1980) e sua trama ambientada em um acampamento para adolescentes. A sequência é um desdobramento dedicado à sobrevivente de um dos acontecimentos macabros de Shadyside, no caso, o inexplicável massacre executado por um pacato monitor de acampamento. Em Rua do Medo - 1978 (que não por acaso é o ano de lançamento de Halloween de John Carpenter), nós acompanhamos duas irmãs bem diferentes, a rebelde Ziggy (Sadie Sink da série Stranger Things) e a comportada Cindy (Emily Rudd) que vão precisar colocar as desavenças de lado para saírem com vida daquela carnificina. Aqui, o tom do filme é diferente, as mortes são bem mais chocantes, especialmente por envolver crianças o que compromete os momentos de alívio cômico. A atmosfera é bem mais sombria. No entanto, é interessante ver as histórias de Shadyside ganhar corpo e começar a revelar um pouco da lógica que está por trás dos acontecimentos que tornaram a cidadezinha em um lugar bastante assustador. Talvez por se moldar demais nos grandes clássico so gênero, o filme pareça o menos criativo da trilogia (ele até explora mais a conduta sexual dos personagens, apresentando até cenas de nudez juvenil - o que no gênero significava ser a próxima vítima do assassino). Para fechar a história, a trilogia vai para a origem de tudo em 1666, quando conhecemos a história de Sarah Fierce que foi executada por acusações de bruxaria, sendo que... nem tudo o que era anunciado nos filmes anteriores sobre ela mostra-se verdadeiro. Questões como preconceitos, relações abusivas, extremismo religioso e misoginia recebem destaque numa trama que bebe nas fontes dos clássicos do terror envolvendo bruxas, mas sem perder de vista uma leitura atualizada e contemporânea. A crítica considera este o melhor da trilogia, ao conseguir amarrar as pontas dos filmes anteriores de forma bastante coerente e assustadora em seu contexto de retrato social de uma época em que mulheres que não se enquadravam nos padrões eram queimadas sob acusação de bruxaria. Aqui, os slashers movies ficam de lado e elementos como magia negra e satanismo ganham destaque, revelando alguns segredos muito bem escondidos de Shadyside. Outro ponto interessante do filme é a utilização do elenco jovem dos filmes anteriores vivendo outros personagens em outro tempo, num exercício de versatilidade muito bacana. Como não poderia deixar de ser, o filme retorna ao ano de 1994 para que as coisas se resolvam, mas deixa alguns elementos para produções futuras. Para quem curte filmes de terror, a trilogia Rua do Medo é uma boa pedida, especialmente pela coerência com que apresenta sua história.
1666: dissonantes na fogueira.
Rua do Medo - Parte 1: 1994 (Fear Strear - 1994 / EUA - 2021) de Leigh Janiak com Kiana Madeira, Olivia Scott Welch, Benjamin Flores, Jr., Julia Rehwald, Fred Hechinger, Ashley Zuckerman e Gillian Jacobs. ☻☻☻
Rua do Medo - Parte 2: 1978 (Fear Strear - 1978 / EUA - 2021) de Leigh Janiak com Sadie Sink, Emily Rudd, Ryan Simpkins, McCabe Slye, Matthew Zuk, Michael Provost, Ted Sutherland e Kiana Madeira ☻☻☻
Rua do Medo - Parte 3: 1666 (Fear Strear - 1666 / EUA - 2021) de Leigh Janiak com Kiana Madeira, Olivia Scott Welch, Ashley Zuckerman, Benjamin Flores Jr., Fred Hechinger e Jeremy Ford ☻☻☻☻
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