sábado, 23 de outubro de 2021

PL►Y: Honey Boy - O Preço do Talento

 
Noah e Shia: relação complicada. 

Acho que não resta dúvidas de que Shia LaBeouf é um sujeito complicado. Nascido em 1986 e se tornando nos anos 1990 um dos mais promissores atores infantis de sua geração, ele ensaiou uma boa carreira no cinema no início do século XXI, mas se envolveu em complicações tão variadas que seu próximo passo sempre parece incerto. Por conta das polêmicas envolvendo sua vida pessoal, seus bons trabalhos no cinema sempre ficam eclipsados (o último em Pieces of a Woman poderia ter lhe rendido uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante, mas denúncias de abuso de sua ex-namorada praticamente o baniram da divulgação do filme). Seria um exagero considerar que Honey Boy é um pedido de desculpas a todas as besteiras que Shia já fez na vida, mas ao menos serve para entender os elementos que fazem a cabeça do ator funcionar do que jeito que funciona. O longa marca a estreia do ator como roteirista e convence como uma espécie de diário realizado para exorcizar os demônios do passado, especialmente os ligados ao problemático relacionamento com o pai, um ex-palhaço de rodeio que o acompanhou a maior parte do tempo enquanto a carreira do astro mirim engatinhava. Não por acaso, o pai é vivido por LaBeouf (indicado ao Independent Spirit e com muito material para Freud explicar) enquanto o ator (rebatizado de Otis) é vivido na versão mirim pelo sempre ótimo Noah Jupe (também indicado ao Independent Spirit) e na fase adulta por Lucas Hedges. Por conta de problemas com a polícia que o levaram a fazer acompanhamento psicológico (além de internação em uma instituição), Otis acaba realizando um diários sobre os acontecimentos que marcaram sua infância e que, provavelmente, contribuíram para seu diagnóstico de estresse pós-traumático. Eu não sei se de fato o roteiro é baseado neste diário (isso se ele realmente existiu), mas o fato é que o filme se constrói de forma bastante eficiente com base neste argumento. A narrativa consegue ser bastante sincera e costurar realismo com toques de fantasia (por vezes amparada por referências à carreira do ator) alcançando um resultado envolvente, embora melancólico e tenso com base na relação entre pai e filho. Embora outros personagens apareçam com destaque no decorrer da história, o ponto nevrálgico da narrativa é o relacionamento complicado entre os dois que revela aos poucos camadas bastante sensíveis e agressivas desta convivência. A diretora Alma Har'el (famosa por seus trabalhos em vídeos e documentários nos Estados Unidos) realiza um um belo trabalho em sua estreia fora de sua zona de conforto. Ela filma de forma tão crua que o realismo daquela relação transborda da tela e incomoda o espectador, seja nas relações ásperas que vemos na tela ou pelas consequências que vieram depois. Embora caminhe de forma quase aleatória, o filme tem um trajeto bastante particular a seguir e termina quase como o início de sua razão de ser. Seja como for, Honey Boy (ou o Preço do Talento, como foi chamado por aqui) cumpre suas intenções da forma que deveria, ainda que em uma clara alusão ao perdão em tempos de cancelamento. 

Honey Boy: O Preço do Talento (Honey Boy - EUA/2019) de Alma Har'el com Lucas Hedges, Noah Jupe, Shia LaBeouf, Laura San Giacomo, FKA Twigs, Clifton Collins Jr., Martin Starr e Natasha Lyonne. ☻☻☻☻

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