domingo, 15 de maio de 2022

Na Tela: O Homem do Norte

 
Alexander: interpretação anabolizada. 

Um príncipe vê seu pai sendo morto pelo tio que logo toma sua mãe como esposa. Ele jura se vingar e salvar a mãe enquanto encontra o amor de uma jovem. Parece Hamlet de Shakespeare, mas não é. Trata-se de história de Amleth, um verdadeiro clássico ancestral que inspirou o bardo inglês a escrever uma de suas obras mais famosas. Diante desta fonte inspiradora, Robert Eggers fez sua produção mais recente que se viu presente em dez entre dez listas de filmes mais aguardados do ano. O Homem do Norte chegou ao Brasil essa semana e deixou muita gente curiosa sobre o apelo que a primeira superprodução (90 milhões de dólares gastos na produção) de Eggers terá junto ao público. O cineasta  é um dos nomes mais elogiados no cinema americano nos últimos anos, desde que lançou seu filme de estreia, o terror A Bruxa (2015), seu talento já se tornou público e notório. Tudo que se viu em seu primeiro lançamento foi reafirmado em O Farol (2019), suspense psicológico com atuações arrebatadoras de Willem Dafoe e Robert Pattinson. Detalhista com a estética de seus filmes e um verdadeiro mestre na condução dos atores, faltava somente a grana necessária para que ganhasse a projeção que só um projeto ambicioso bancado por um grande estúdio é capaz. A Universal comprou a ideia e cada segundo de The Northman deixa claro todo o rigor do cineasta na tela perante tão alta quantia. Se ele já fazia milagres com os orçamentos modestos dos longas anteriores, aqui ele faz a festa em uma escala macro da concepção de um verdadeiro épico nórdico. Se até agora você pensou que já viu esta história de vingança contada um milhão de vezes, garanto que em nenhuma delas houve o rigor cru arrebatador de Eggers. Aqui estão marcas que já se tornaram próprias de sua obra, a fotografia cinzenta (que só ganha cores com o verde das belas paisagens da Islândia), a presença do horror ao desconhecido e o apreço pela veracidade histórica da trama. Na pele de Amleth, o dinamarquês Alexander Skarsgård deixa para trás todos os personagens bonitinhos e elegantes que já fez. Com a musculatura inchada e expressão dura, o ator alcança aqui seu melhor trabalho e consegue se destacar em um elenco impecável que conta com Nicole Kidman (chega a ser  divertido que a atriz, que foi sua esposa na série Big Little Lies, interprete sua mãe no filme), Klaus Bang (como o tio traiçoeiro), Ethan Hawke (como o pai falecido), Anna Taylor Joy (revelada por Eggers em A Bruxa e aqui não se contenta em ser apenas o par romântico do protagonista, apresentando outro trabalho marcante) e até a cantora Björk (já distante de todo trauma vivido com LarsVon Trier em Dançando no Escuro/2000 que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz em Cannes) tem uma participação impressionante. Haja urros, uivos, sangue e violência nas duas horas e vinte minutos de duração do filme que sonha ser a versão definitiva da cultura viking nas telonas. Caminhando ao lado da sede de vingança estão alguns segredos (que quem conhece Hamlet já imagina quais sejam) e uma história de amor que pode servir de redenção para Amleth. Não vou dar spoilers, mas fiquei bastante impressionado com o resultado. Identifiquei aqui e ali momentos me lembram a barbárie de Valhalla Rising/2009 e da forma como se constrói uma lenda vista no recente A Lenda do Cavaleiro Verde/2021. Resta saber se toda as expectativas em torno do filme irão colocá-lo em outras listas, aquelas destinadas aos melhores do ano. Além disso, o resultado nas bilheterias pode fazer a Universal identificar aqui seu trunfo para a próxima temporada de ouro. 

O Home do Norte (The Northman /EUA - 2022) de Robert Eggers com Alexander Skarsgård, Klaus Bang, Nicole Kidman, Annya Taylor Joy, Ethan Hawke e Björk. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário