Tilda, Owen e a trupe de Wes: apenas bonitinho. |
Previsto para ser exibido no Festival de Cannes de 2020, o último filme de Wes Anderson teve que lidar com adiamentos e o crescimento da expectativa do público durante a pandemia até que entrasse em cartaz em 2021. Ser esnobado nas grandes premiações deixou claro que o filme não obteve o apelo que desejava, nem de público, nem de crítica. Seria até redundante elogiar toda a famosa estética do diretor mais uma vez. Seu gosto pelos tons pastéis, detalhes de cenário, simetria e figurinos permanecem intactos. Faltou apenas criar uma história que envolvesse a plateia que assiste tudo que surge na tela com um incômodo distanciamento. É verdade que o diretor ousa ao construir seu roteiro como se estivesse apresentando uma revista e seus autores, mas o conjunto de histórias costuradas parece mais um conjunto de curtas colados com a participação do Bill Murray, que interpreta o editor da publicação que dá título ao filme. Wes declara seu amor ao jornalismo contando a história de uma revista que nasceu no Kansas e se mudou para Enui, na França, mas que agora sofre com a morte de seu editor. Perante seu último desejo no testamento, a equipe da revista prepara sua edição de despedida. O filme é composto por cinco crônicas escritas por seus jornalistas, mas que são capazes de despertar emoções distintas no espectador. Na primeira, Herbsaint Sazerac (Owen Wilson) apresenta a cidade de Enui e as mudanças que sofreu nos últimos 250 anos (um deleite para quem curte o design de produção dos filmes do diretor), na terceira conhecemos a história de um artista (Benicio Del Toro) que está internado em um sanatório e faz de uma enfermeira (Léa Seydoux) sua grande musa, tudo contado com a narrativa inspirada de Tilda Swinton. Na terceira conhecemos um estudante (Timothée Chalamet) envolvido com o movimento estudantil dos anos 1960 e que se envolve com a jornalista vivida por Frances McDormand. Por último, um jornalista (Jeffrey Wright) conta o confuso sequestro do filho de um comissário. A irregularidade dos contos que surgem na tela comprometem o ritmo da narrativa e o texto mais truncado da carreira de Wes não ajuda. Quem acompanha os filmes do cineasta conhece como ele sabe fazer graça da formalidade presente não apenas nos diálogos, como também nas interpretações de seu elenco, mas aqui o resultado parece satisfatório somente na história do artista apaixonado por sua musa. Ali, o filme encontra o ponto certo entre o humor e a acidez ao contar as ironias das relações de poder e do mundo da arte, sendo original e divertido na medida certa. Quando o filme termina, ficamos com a impressão de ter visto um filme bonitinho, mas não muito mais do que isso. A Crônica Francesa é cheia de ideias, mas nem todas conseguem se conectar e construir uma conexão interessante.
A Crônica Francesa (The French Dispatch / EUA-Alemanha / 2021) de Wes Anderson com Bill Murray, Owen Wilson, Tilda Swinton, Benicio Del Toro, Léa Seydoux, Jeffrey Wright, Frances McDormand, Timothée Chalamet, Mathieu Almaric e Bob Balaban. ☻☻
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