quarta-feira, 25 de maio de 2022

PL►Y: In Natura

 
Ole Giæver: homem ao natural. 

Aos que podem se escandalizar com a foto que ilustra esta postagem, vale a pena dizer que ela é a que ilustra o pôster deste filme norueguês dirigido pela dupla Ole Giæver e Marte Vold, que honra o título de forma bastante instigante. Vale dizer que o cara da foto é o próprio Ole, que estrela a produção e assina o roteiro que é um estudo de personagem feito com bastante frescor (sem trocadilhos), toques de humor e existencialismo. Mas não imagine que se trata de um filme cabeça, denso e pesaroso, existem realmente questões importantes abordadas ao longo dos enxutos oitenta minutos de produção, mas que dão conta de dar ao longa uma atmosfera bastante autêntica e honesta aos roteiros que colocam um personagem em contato com a natureza. Mais do que realizar uma longa trilha acompanhado somente da natureza ao seu redor, o filme abraça as reflexões do personagem em torno de sua vida até ali, das possibilidades deixadas para trás e as que poderiam acontecer dali em diante. Martin (Ole Giæver) parece ter um casamento que caiu na mesmice com Sigrid (Marte Magnusdotter Solem), os dois possuem uma rotina aparentemente segura ao lado do filho, Karsten (Sivert Giæver Solem) - e os sobrenomes parecem indicar que trata-se realmente de uma família fora da tela. No entanto, Martin parece cada vez mais distante, especialmente na forma como se despede da família rumo à sua jornada naqueles dias frios que só a Noruega parece proporcionar. Enquanto caminha, ele pensa sobre o casamento, seu relacionamento com o filho, pensa em divórcio, no relacionamento com o seu pai, mostrando que aquele sujeito certinho se descasca perante à câmera cena após cena. Quase baseado naquela música do Capital Inicial ("o que você faz quando ninguém te vê fazendo"?), ele literalmente se despe perante a câmera, não apenas fisicamente, mas também em suas emoções e desejos. Faz tempo que não vejo um filme que apresenta um homem solitário em contato, digamos, consigo mesmo de forma tão natural e espontânea. Embora muita gente ainda se choque, vale dizer que as cenas de nudez masculina são mostradas de forma natural e, na maioria de forma cômica, seja na fracassada cena de autossatisfação com a chegada inesperada de outra pessoa ou o banho gélido após aquele sonho enganoso de quando você deveria ter levantado e ido ao banheiro. Pode ser que exista um bocado de exibicionismo no trabalho de Ole Giæver (que admite não ser um David Beckham), mas também existe um bocado de coragem somada à simpatia com que carrega o filme nas costas. Entre fantasias, lembranças e reflexões sobre o rumo que vida toma (incluindo algumas cenas bastante metafóricas, com a do pé preso na lama ou aquela em que o personagem se enterra vivo e parece renascido para o desfecho), In Natura se torna interessante por não ser apenas sobre a relação do homem com a natureza, mas a forma como este contato pode nos fazer refletir sobre quem somos em um contexto mais amplo e significativo. É o microuniverso de Martin se perdendo em si para se reencontrar no macrouniverso do qual faz parte. Para quem se interessar, o filme está em cartaz na MUBI e se despedirá nos próximos dias. 

In Natura (Mot Naturen / Noruega - 2024) de Ole Giæver e Marte Vold com Ole Giæver, Marte Magnusdotter Solem, Sivert Giæver Solem e Rebekka Nystabakk. ☻☻

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