Lee e Høiner: a magnífica estreia de Joachim Trier.
Conheci o trabalho do norueguês Joachim Trier em Mais Forte que Bombas/2015, filme que ficou entre os meus favoritos daquele ano e lhe valeu o posto de melhor diretor daquele ano em minha modesta opinião. Era seu primeiro trabalho em língua inglesa (e único por enquanto) e trazia um elenco internacional. Depois, descobri Joachim havia lançado dois longas anteriormente (mas difíceis de encontrar por aqui). Depois veio toda a expectativa de Thelma (2017) e o elogiado A Pior Pessoa do Mundo (2021) e minha estima pelo diretor somente cresceu. Eis que nas últimas semanas a MUBI me concedeu o agrado de disponibilizar os dois primeiros filmes do diretor em seu catálogo. O primeiro deles é o cultuado Reprise (que recebeu nome de novela das seis por aqui: Começar de Novo), o debut do cineasta que desde aquele momento demonstrava seu apreço por personagens que enfrentam situações que redefinirão suas vidas. O filme (escrito por Trier e seu eterno parceiro Eskil Vogt) conta a história de dois jovens amigos que decidem ser escritores (e gosto de imaginar que isso não é coincidência). A apresentação de ambos é feita de forma bastante dinâmica, sem perder tempo com o que não interessa. A colagem de curiosidade sobre os personagens deixa claro que tão logo suas primeiras obras são lançadas, as repercussões são opostas. Enquanto Phillip (Anders Danielsen Lee) alcança elogios e sucesso, a obra de Erik (Espen Klouman Høiner) passa praticamente despercebida. No entanto, o efeito na vida de ambos é oposta ao imaginado. Erik segue em busca de algum reconhecimento, já Phillip, na mistura entre fama e o relacionamento com Kari (Victoria Winge) despertam no rapaz a sua psicose. O filme acompanha o reencontro dos dois amigos após este período tempestuoso e a forma diferenciada como acabam enxergando o mundo. Se Phillip se torna mais melancólico (e insiste em realizar contagens regressivas ao longo dos dias, criando uma sugestiva tensão na mente do espectador), Erik segue em caráter mais solar em busca de reconhecimento, mas sem perder de vista as fragilidades do amigo (pelo menos até a cena em que Phillip lhe pede opinião sobre um novo texto). Trier costura situações na vida dos dois amigos com sua peculiar habilidade narrativa, existem situações divertidas (como a foto de Phillip ao lado do escritor favorito de ambos), irônicas (os casamentos no final da sessão) e reflexivas (como a amizade com pessoas completamente diferentes de você). Merece destaque no filme a performance intimista de Anders Danielsen Lee (que estreou aos onze anos de idade no premiado drama Herman/1990 de Erik Gustavson e retomou sua carreira aqui após dezesseis anos e quase se formar em medicina).
Oslo, 31 de Agosto: o segundo filme de um grande diretor.
Lee é um ótimo ator que se tornou a marca registrada do que mais tarde se tornou conhecida como a trilogia Oslo feita pelo cineasta, que teve sua segunda parte na obra seguinte: Oslo, 31 de Agosto (2011). Desta vez Danielsen Lee interpreta Anders, um rapaz que nunca soube muito bem o que fazer da vida e que se tornou usuário de drogas. Agora, depois dos trinta anos (e sobreviver a dez anos de vício em substâncias variadas), ele precisa retomar sua vida. Anders sabe que será algo difícil e uma das primeiras cenas do filme deixa isso bem claro. A história é quase toda centrada em um único dia, em que o personagem caminha pelas ruas de Oslo reencontrando amigos, interesses amorosos, procurando emprego e precisa lidar com comentários que funcionam como verdadeiros gatilhos para sentimentos sobre o período que passou. A narrativa parece simples, mas se constrói nas ondulações feitas por períodos de aparente tranquilidade e outros em que os diálogos cortam feito uma navalha. Ao longo da história a emblemática cena do personagem no rio se torna uma ameaça sempre presente perante a sensação de inadequação a um mundo que mudou e que parece rejeitá-lo. Cenas emblemáticas são o que não faltam no filme (a da cafeteria em que tudo parece remeter à história do personagem ou aquela em que ele dorme no parque e acorda sozinho com o dia próximo do fim traz a exata sensação de que uma lacuna temporal que não consegue ser recuperada). Se Reprise consegue ser bem humorado em meio à tensão de algumas situações, o humor quando surge em Oslo, 31 de Agosto é sempre incômodo e serve apenas para enfatizar o drama do protagonista. É um filme mais lento e pesaroso, mas que funciona como bom contraponto na tal "trilogia Oslo" recentemente concluída com A Pior Pessoa do Mundo (cuja atriz Renate Reinsvie faz uma pequena participação nesta segunda parte, tendo apenas uma fala em toda a projeção). Calcado em torno de jovens que ainda buscam o rumo de suas vidas, a trilogia Oslo funciona bem pelas emoções complicadas que evoca e seus desfechos sempre diferentes em torno de personagens tão bem lapidados que podem existir em qualquer lugar do mundo.
Reprise (Noruega/2006) de Joachim Trier com Anders Danielsen Lee, Espen Klouman Høiner, Victoria Winge, Pål Stokka e Christian Rubeck. ☻☻☻☻☻
Oslo, 31 de Agosto (Oslo, 31. August / Noruega - Dinamarca - Suécia / 2011) de Joachim Trier com Anders Danielsen Lee, Hans Olav Brenner, Ingrid Olava, Marlin Crépin e Kjærsti Odden Skjeldal. ☻☻☻☻
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