Terence, Guy e Hugo: figurino inigualável.
O que faz de algo um clássico? Pela etimologia da palavra, um clássico seria algo de primeira classe, primeira ordem ou de elite. Entre os significados do termo, também é ressaltado sua relação com os paradigmas e o que se torna modelo para um determinado gênero (uma referência consagrada dentro da arte). Paralelo a isso, penso naqueles dias em que você procura algo para assistir na variedade de produções presentes no streaming e você opta por algo que não é uma novidade, mas que você sabe que ao assistir, lhe trará a mesma satisfação de antes. Foi assim que nasceu este #FimDeSemana Novos Clássicos, com três filmes que assisti recentemente e que, já calejados por algumas décadas, ainda são referências de um determinado gênero. Para começar, escolhi o australiano Priscilla, A Rainha do Deserto que trouxe a cultura drag para a cultura pop ao redor do mundo. É estranho imaginar que na última década, personagens homossexuais ainda eram vistos com desconfiança pelos estúdios, mas um grupo de filmes tentavam romper este estigma. A maioria dos filmes era relegada a um público bastante específico preso ao underground cinéfilo, sendo preciso a exuberância estética de um revigorado cinema australiano para colocar as plumas e paetês no catálogo de Hollywood. A Austrália tinha alcançado o sucesso recente com Vem Dançar Comigo (1992) de Baz Luhrman e O Casamento de Muriel (1994) com Toni Collette também gerava boas bilheterias sem medo de soarem bregas. Quando Stephan Elliott resolveu explorar o colorido da cultura drag em uma comédia, calcou a trama em um road movie, com um ponto de partida bastante comum no gênero: um pai que precisa reencontrar o filho por conta de adversidades da vida. No entanto, para não cumprir a jornada sozinho, convida duas parceiras drag queens para lhe fazer companhia. Assim, enquanto Mitzy, ou melhor, Anthony (Hugo Weaving) fica tenso em encontrar seu herdeiro (e imaginar como ele irá encarar o pai que não vê há muito tempo), a recém viúva Bernadette (Terence Stamp, um galã das antigas que faz bonito num papel bem diferente do habitual) tem que lidar com a acidez de Adam (Guy Pearce) e sua espevitada alter-ego, Felicia. Enquanto a trilha sonora capricha em clássicos hinos GLBTQIA+, os figurinos de Lizzy Gardiner e Tim Chappel vão além de tudo o que já foi visto numa tela de cinema (seja em material, textura, combinação de cores e desafios à gravidade) em seu contraste com as paisagens do deserto australiano ou bares decadentes. Em suas andanças, o trio irá encontrar um bocado de incompreensão e abordam questões que até hoje permanecem atuais. Seja na ideia de "família tradicional" que paira sobre a história de Anthony, nas maldades presentes nos comentários ofensivos de Felicia ou na personalidade trans de Bernadette, uma personagem que introduz um conceito que nem era comentado no cinema em meados dos anos 1990. São estes pontos que fazem de Priscila um verdadeiro clássico, um filme bem humorado, sem perder o verniz dramático quando necessário e sinônimo em nosso imaginário coletivo quando se fala em produções de gênero. Você jamais ouvirá I Will Survive do mesmo jeito (ou a melosa I've Never Been To Me que é bem mais sacana do que aparenta) e acredite, aqueles figurinos são inesquecíveis.
Priscilla, A Rainha do Deserto (The Adventures of Priscilla, The Queen of the Desert / Australia - 1994) de Stephan Elliot com Hugo Weaving, Guy Pearce, Terrence Stamp e Bill Hunter. ☻☻☻☻☻
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